segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Em homenagem aos 106 anos( data in memoriam) de Simone de Beauvoir.

106º Aniversário de Simone de Beauvoir

Por Jota A. Botelho
TUDO COMEÇOU NO CAFÉ DE FLORE


Simone Beauvoir e Jean-Paul Sarte no Café de Flore 
O FILME QUE RECONTA A HISTÓRIA - OS AMANTES DO CAFÉ FLORE
Sorbonne, Paris, 1929. Simone de Beauvoir se apaixona pelo carismático jovem gênio, um rebelde contra os valores burgueses: Jean-Paul Sartre. Juntos, eles embarcam numa viagem erótica e emocional. Depois de vinte anos na profunda perversão, ela encontra forças para reivindicar sua própria identidade e fama. Em uma viagem pela América, ela conhece Nelson Algren, futuro vencedor do prêmio Pulitzer, e descobre uma nova forma de viver a sexualidade. Depois de se apaixonar, ela escreve seu famoso livro O Segundo Sexo. Ao retornar a Paris, Simone se sente dividida: sem Nelson, sua vida fica vazia, e sem Sartre, sem significado.

CAFÉ DE FLORE
"Conheci o Café de Flore através da literatura - lendo a biografia incrível Tête-à-Tête (Hazel Rowley) que tem como eixo central a história da relação entre Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir para remontar o contexto do movimento existencialista na frança, o surgimento de grandes obras como O Segundo Sexo de Beauvoir e A Náusea de Sartre, seu círculo social envolvendo outros escritores e artistas como Albert Camus, Merleau-Ponty e Nelson Algren. O cenário da história é, entre outros, o bairro parisiense Saint-Germain-des-Prés e seus cafés. Foi durante a ocupação alemã em Paris na segunda guerra que o Café de Flore começou a ser frequentado por intelectuais franceses, entre eles, Beauvoir e Sartre, já que ainda era pouco conhecido e os soldados alemães não costumavam aparecer por lá. O café tornou-se um lugar seguro para escrever, livre da censura, um local de resistência secreta, além de ser muito melhor trabalhar ao lado de várias doses de café, em especial o espresso!
Após passar a manhã dando aula, Sartre e Beauvoir instalavam-se num café para escrever. O preferido era o Flore, no Boulevard Saint-Germain, com suas cadeiras vermelhas e seus espelhos.[...] e - envoltos em fumaça de tabaco, em meio ao tilintar  das xícaras de café, ao burburinho das conversas e à distração do movimento das pessoas que iam ao banheiro ou falar ao telefone – escreviam." (ROWLEY, 2006: 156) Além da dupla que usava o espaço do Flore para escrever, sempre acompanhados de um bom café, o lugar foi frequentado por músicos, escritores, cineastas da nouvelle vague, atores, fotógrafos e pintores. Diante do romantismo envolvendo o Flore, ele se tornou inspiração para a música, o cinema e a fotografia. O Flore aparece no vídeo da canção 'Il n´y a plus aprés' de Juliette Gréco, cantora e atriz francesa também frequentadora do Flore, 'musa do existencialismo', uma homenagem ao bairro Saint-Germain-des-Prés. No cinema, o Café aparece como cenário no filme sobre o romance de Sartre e Beauvoir, Les Amants du Flore (Os Amantes do Café  Flore) que é título do novo filme de Jean-Marc Vallée, de A Jovem Rainha Vitória e C.R.A.Z.Y".   

Foto de Brassaï : Sartre no Café de Flore (ca.1945)

Foto de Brassaï : Beauvoir no Café de Flore (ca.1944)

O fotógrafo Brassaï ao lado de Picasso no Café de Flore (ca.1939)
 
O atual Café de Flore em Paris, na esquina do Boulevard Saint-Germain e a Rue St. Benoit
[Fonte: Baseado nas descrições de Mariana, do Cestcafe Blogspot]

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SIMONE DE BEAUVOIR VIVE
Por Monica Valby, 2006, Extraído do Label France nº. 63
Quando ela morreu, em 1986, a filósofa Elisabeth Badinter declarou: “Mulheres, vocês lhe devem tudo!” Vinte anos depois, Simone de Beauvoir continua a ser aquela que, com seu livro O Segundo Sexo, fez voar em estilhaços a camisa de força da pretensa “inferioridade feminina”. E viveu como uma mulher livre. Existem moças na França, estudantes inclusive, que ignoram quem ela é. A antropóloga Françoise Héritier encontrou algumas durante um colóquio do CNRS (Centro Nacional para a Pesquisa Científica). Um ano depois, a professora honorária do Collège de France não esconde sua surpresa. Como desconhecer Simone de Beauvoir, autora do Segundo Sexo, um livro internacionalmente considerado como a base do feminismo contemporâneo? Beauvoir diria, mais tarde, que não era assim que havia imaginado entrar para história, mas, como boa existencialista, assumiu o fato. Nascida em 1908, desde muito jovem tinha o projeto de não se casar, tornar-se filósofa e escrever. O casal que formava com Jean-Paul Sartre, baseado na liberdade e na confiança mútuas foi um marco da vida literária e política dos anos 1940 até os anos 1970. Como intelectuais “engajados”, ou seja de esquerda, produziram uma obra de vulto, sendo cada um o primeiro leitor do outro. Romancista, dramaturga e jornalista, Beauvoir entrelaçou vida e obra de forma inextricável. Nos relatos autobiográficos[1] quis tudo explicar e explicar-se a respeito de tudo, mantendo um distanciamento. Entretanto, sua correspondência póstuma revela, nas cartas a Nelson Algren, seu amor americano que encontrou em 1947 em Chicago e que fez dela uma “mulher completa”, amando com “corpo, coração e alma”, uma mulher encantada, curiosa a respeito de tudo, jovial e completamente apaixonada. Isto é contado em Os Mandarins, pelo qual recebeu o prêmio Goncourt de 1954. Essa distinção não foi suficiente para abafar o escândalo provocado em 1949 pela publicação de O Segundo Sexo, uma análise política sem precedentes da questão feminina. Beauvoir demonstra que a inferioridade feminina não é natural e sim construída socialmente, fato que, no entender de Françoise Héritier, é “um modo novo de falar do gênero”. Beauvoir insiste na igualdade entre os sexos e incita as mulheres a se emanciparem, principalmente através da independência econômica. Muitos homens enfureciam-se com o livro, enquanto as mulheres o liam. Até sua morte, milhares de mulheres escreveram a Beauvoir, algumas para dizer que seu texto as tinha salvo. A americana Betty Friedan[2] dedicou a ela, em 1963, A Mulher Mistificada, segunda obra fundadora do feminismo[3]. Durante toda a vida, tal como Sartre, Beauvoir serviu-se de sua notoriedade para defender os intelectuais e os “oprimidos”, especialmente as mulheres. Nos últimos quinze anos de sua vida, encontrou nas mulheres do “movimento” um radicalismo e uma exigência de clareza à sua medida e ela se engajava nesse movimento entusiasmada, “porque elas não eram feministas para tomar o lugar dos homens, mas sim para mudar o mundo”, declara ao jornal Le Monde em 1978, afirmando a seguir: “Mantenho absolutamente a frase: não se nasce mulher, torna-se”. Tudo o que eu li, vi, e aprendi nestes últimos 30 anos confirmaram essa ideia. A feminilidade é fabricada, como aliás também se fabricam a masculinidade e a virilidade”. Ela criou a associação Escolher para o Direito a uma Maternidade Desejada, em conjunto com a advogada Gisèle Halimi, o Centro Audiovisual Simone-de-Beauvoir, com a atriz Delphine Seyrig e Carole Roussopoulos e a Liga do Direito das Mulheres. “Essa mulher que não quis ter filhos e tem hoje milhões de filhas pelo mundo”, observa com humor a escritora Benoîte Groult. Simone de Beauvoir é venerada pelas feministas, que a leem e estudam, principalmente fora da França. A Simone de Beauvoir Society, com sede na Califórnia, realizarou seu 14º colóquio em Roma, na Itália, em setembro de 2006. A jornalista Bénédicte Manier constatou que, na Índia, “em todas as discussões sobre as mulheres, ao cabo de dez minutos , as indianas citam Simone de Beauvoir”. Em comparação, seu lugar na França é muito discreto. Seus escritos não estão incluídos no programa escolar e só encontramos 7 das 68.000 escolas francesas com seu nome. Porém, a vida é movimento. Simone de Beauvoir vai entrar para a paisagem parisiense, pois uma nova passarela sobre o Sena, em frente à Biblioteca François Mitterrand, terá o seu nome. Um reconhecimento raro e duradouro. Na entrevista com Anne Zelensky-Tristan[4], co-fundadora, em 1974, da Liga do Direito das Mulheres, presidida por Simone de Beauvoir, ela disse: “A ideia da Liga do Direito das Mulheres partiu dela, que estava irritada com a inércia da Liga dos Direitos Humanos nesse tópico. A associação foi fundada por várias mulheres e presidida por Beauvoir. Ela sempre esteve muito presente. Em 1971, estava à frente do Manifesto das 343, assinado por mulheres conhecidas que declaravam ter-se submetido a um aborto[5]. O escândalo foi imenso. Em 1972, participou das duas Jornadas de denúncias dos crimes contra as mulheres. Na sala da Mutualité[6], ela esteve sentada conosco, em círculo, no grupo do aborto. Simone de Beauvoir foi, para mim, um modelo vivo e um modelo de vida. Já muito jovem eu quis viver como ela, assumir minha liberdade. Sempre admirei a tentativa dela e Sartre de reinventar o casal, tentativa esta que continua à frente do que se faz hoje. Hoje, os jovens mal conhecem Simone de Beauvoir, pois ela foi extirpada dos programas. O Segundo Sexo continua sendo uma bomba para o sistema patriarcal!  Apesar dos guardiães do templo, sua herança é imensa.”  Monica Valby, jornalista.
[1] Memórias de uma Moça Bem-Comportada, A Força da Idade e A Força das Coisas, como também Uma Morte Muito Suave (a de sua mãe) e A Cerimônia do Adeus, a respeito dos últimos anos de Sartre, falecido em 1980. 
[2] Betty Friedan, feminista Americana fundadora da National Organization for Women (NOW), faleceu em 2006.
[3] O terceiro é Um Quarto Seu, de Virginia Woolf.
[4] Anne Zelensky-Tristan publicou em 2005 Histoire de vivre, mémoires d’une féministe (História de uma vida, memórias de uma feminista) editora Calmann-Lévy (Paris).
[5] O aborto será legalizado na França em 1975, permitindo às mulheres que muitas vezes punham suas vidas em risco por causa de gravidezes indesejadas sair da clandestinidade.
[6] A Mutualité é uma sala parisiense onde se realizam reuniões políticas.
O LIVRO O SEGUNDO SEXO



*Em minha opinião o livro deve ser lido por todas as mulheres, pois mesmo tendo sido escrito há tantos anos, sua reflexão sobre a condição feminina é bem atual e útil nestes dias em que as informações são tantas, mas a reflexão é escassa.
O Segundo Sexo I - Fatos e Mitos (1949) - Lançado numa época em que o termo "feminismo" nem sequer havia sido cunhado, este livro é considerado, hoje, como o marco inicial da prática discursiva da situação feminina. Neste primeiro volume, Simone de Beauvoir aborda os fatos e mitos da condição da mulher numa reflexão apaixonante que interessa a ambos os gêneros humanos.[Download]
O Segundo Sexo II - A Experiência Vivida (1949) - Segundo volume do livro que examina a condição feminina em todas as suas dimensões: a sexual, a psicológica, a social e a política. Uma proposta de caminhos que podem levar à libertação não só das mulheres como, sobretudo, dos homens. Complementação de uma obra que, em escala mundial, inaugurou o debate sobre a situação da mulher.[Download]

** Simone de Beauvoir nasceu em Paris, em 1908. Formou-se em filosofia, em 1929, com uma tese sobre Leibniz. É nessa época que conhece o filósofo Jean-Paul Sartre, que seria o seu companheiro de toda a vida. Escritora e feminista, Simone de Beauvoir fez parte de um grupo de filósofos escritores associados ao existencialismo, um movimento que teria uma enorme influência na cultura europeia do século XX, com repercussões no mundo inteiro.
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A TRAIÇÃO CONSENTIDA DE SIMONE 
Biografia romanceada narra a paixão da filósofa Simone de Beauvoir por um escritor americano, sob total aprovação do marido, Jean-Paul Sartre. Ela queria apenas ser amada e submissa - Por Aina Pinto
Uma mulher pedante, preocupada com esmaltes e batons, apavorada com o envelhecimento e ciumenta a ponto de não suportar a simples menção do nome da amante de seu marido – assim é pintada a musa do existencialismo, a francesa Simone de Beauvoir (1908-1986), na biografia romanceada “Beauvoir Apaixonada” (Verus), de autoria da jornalista e historiadora Irène Frain. O retrato surpreende porque publicamente Simone sempre se mostrou uma feminista e escreveu uma das bíblias do feminismo, “O Segundo Sexo”. O livro traz ainda mais veneno para macular o mito. A relação amorosa que ela manteve com o filósofo Jean-Paul Sartre (1905-1980), sempre apresentada como revolucionária, na prática não era exatamente assim. Em tese era permitido que um traísse o outro, na boa, desde que as traições fossem reveladas mutuamente. Mas pelo menos um desses casos, a relação que Simone manteve por 17 anos com o escritor americano Nelson Algren, foi explosivo como conta o livro.
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INTIMIDADE
Simone de Beauvoir numa foto de Art Shay:
ciumenta e vaidosa
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Simone conheceu Algren – e caiu de paixão. Algren era autor de “O Homem do Braço de Ferro”, que virou filme de sucesso com Frank Sinatra. Escreveu também “Um Passeio pelo Lado Selvagem”, que inspirou Lou Reed e fez com que se tornasse ídolo de Barack Obama. Na mesma época que Simone o conheceu, Sartre estava apaixonado também por uma americana, a radialista Dolores Vanetti. Simone a odiava e numa crise de histeria a apelidou de “Maldita”. Nas cartas da filósofa para Algren, Dolores é tratada apenas pela inicial, M. Foi essa correspondência que Irène utilizou como fonte, além de anotações pessoais e documentos inéditos. Ela teve acesso a trechos cortados das cartas, publicadas em 1997, que revelam pela primeira vez o lado fútil da filósofa e sua preocupação com a aparência, além do teor do romance que estava experimentando. Como não se conhece a correspondência de Algren, a autora preenche a lacuna com a ficção – tudo mais é real e factual. O primeiro contato entre Simone e Algren se deu em Chicago, em fevereiro de 1947, durante uma turnê de conferências. Ela viajava só e estava irritada com a dedicação de Sartre a Dolores. Nessa altura o par existencialista já mantinha o que chamava de “casamento intelectual”: Simone e Sartre eram companheiros e não faziam sexo havia oito anos. Ambos mentiam ao mundo pregando que é possível ser traído sem brigas e ódios. Na verdade, Simone via Dolores como uma ameaça: a radialista estava se tornando o “amor essencial”, enquanto ela passava aos poucos à condição de “amor contingente” – a classificação foi uma invenção do casal, nada que a MPB já não tenha traduzido como “matriz e filial”.
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O AMANTE
Nelson Algren, ídolo de Barack Obama, tinha fama de
sedutor e era frequentador do submundo de Chicago
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Esse clima tempestuoso foi revelado à autora por outra fonte inédita: uma caderneta de notas escritas em conjunto por Simone e Algren em suas viagens. Das outras amantes, Simone dizia não ter medo ou ressentimentos, mas de Dolores tinha raiva. Simone havia decidido realizar, ela mesma, um projeto antigo de Sartre – escrever um livro tratando do “lado apodrecido” do capitalismo. Para isso, precisava de um guia que lhe apresentasse o “avesso da América”. Escolheu Chicago, cidade símbolo da industrialização americana, e como parceiro de pesquisa elegeu Algren, um anfitrião que conhecia cada espelunca da região. Na mesma noite em que foram apresentados, ele a levou para casas de strip-tease e bares imundos, frequentados por imigrantes e veteranos da Segunda Guerra Mundial. O próprio escritor lutara na libertação de Paris. Vivia em um bairro polonês e circulava entre prostitutas e drogados que inspiravam seus livros.
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RELAÇÃO ABERTA
Simone (acima) vivia uma “união intelectual” com Sartre (abaixo):
eles não compartilhavam o sexo, tinham amantes, não escondiam
um do outro as aventuras amorosas, mas morriam de ciúmes
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Com fama de sedutor, Algren não tinha noção de quem era Simone, conhecida pelos íntimos como “Castor”. Ele detestava a exibição erudita das revistas literárias, mas o lado intelectual da francesa não o incomodou – mesmo porque os dois mal podiam se entender, já que ela ouvia com dificuldade o inglês e ele não a compreendia, por causa do forte sotaque francês. O romance registra detalhes nada elegantes, como a ausência de um banheiro na casa do amante. A mistura de aventura, charme decadente e admiração por outra cultura – ­Simone logo reconheceu em Algren um escritor de fibra – transformou a parisiense já balzaquiana em uma adolescente apaixonada. Dizia, sem pudores feministas, que queria ser apenas uma “mulherzinha” – como Sartre se referia às mulheres submissas. Viram-se, espaçadamente, durante três anos, e no auge do romance Algren a pediu em casamento, “instituição burguesa” que ela detestava. Simone preferiu a assexualidade do relacionamento com Sartre, com quem viveu até a morte dele, em 1980. Seis anos depois ela faleceu e foi enterrada na mesma sepultura no cemitério de Montparnasse, em Paris. No dedo médio da mão esquerda, usava um grande anel de prata com motivos tribais, presente de Algren. Agonizante, pediu para ser sepultada com ele.
[Fonte: Baseado na ISTOÉ Independente / Créditos das Fotos: Keystone-France/Gamma-Keystone via Getty Images; CSU Archives/Everett Collection/Glow Images; Roger Viollet/Glow Images]

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A PRIVACIDADE EXPOSTA NAS FOTOGRAFIAS DE ART SHAY
O artigo foi publicado no Le Nouvel Observateur sobre as fotos de Simone de Beauvoir nua em uma sala de banho. Esta é uma tradução livre do artigo de 03 de janeiro de 2008, que foi assinado pelo próprio Art Shay, ou Shayart, como também era conhecido. 
A POLÊMICA

Após as reações provocadas pela capa do Le Nouvel, o autor das fotos de Simone de Beavoir nua, se xplica. Contactado pelo Le Nouvel Observateur, Art Shay, o fotógrafo americano que fez as fotos de Simone de Beauvoir nua, publicado na capa do Le Nouvel, em 03 de janeiro de 2008, nos conta a história por trás dessas fotografias.

O livro de Art Shay c/ suas fotos

Um resumo detalhado das circunstâncias pelas quais eu fiz essa foto é relatado no livro de Hazel Rowley, publicado ano passado, "Tête à Tête". Estritamente falando, sim, que essa fotografia foi roubada, segundo uma ótica feminista. Vamos nos situar no contexto: meu amigo Nelson Algren estava chateado pois seu apartamento, que ele alugava por 10 dólares ao mês, não tinha nem banheira, nem ducha. Então ele me pediu para ver um lugar para que Madame (em francês no texto, Nota Da Redação), pudesse tomar um banho de banheira ou uma ducha. Ele me preveniu com humor que uma "Frenchy", como ele dizia, raramente fechava a porta, ainda mais com uma dobradiça de porta quebrada. Uma jovem conhecida me emprestou as chaves de seu apartamento. Ela as deixou sob o capacho. Eu fui pegar Simone na casa do Nelson e a levei por cerca de 15 minutos, andando pro norte, pra casa de minha amiga. Na ida, como no caminho de volta, ela me perguntou de forma muito direta sobre minhas atividades como marido e pai de família. Se eu era fiel. Se eu amava minha esposa. "Nelson já tentou seduzir sua mulher?" (Nessa época Nelson seduzia muitas mulheres, mas não a minha). Eu a perguntei se ela era fiel, se era fiel a Jean-Paul Sartre quando estava na França, e fiel a Nelson quando ela estava em Chicago. Ela me replicou, "você é um ótimo repórter, meu jovem". Mas ela não respondeu. Como jovem fotógrafo da Life Magazine, eu sempre levava minha Leica comigo. E nesse dia não era exceção. Você precisa entender que para mim, Madame não era "uma instituição" nessa época, era acima de tudo a amante estrangeira do meu amigo, um homem que ela apreciava sobretudo pelo prazer que ele proporcionava, de um grau de satisfação bem maior que nas relações sexuais que ela então tinham na França. Nelson também me contou (como conta Bettina Drew em sua biografia sobre Nelson, "A Life on the Wild Side"), que o único livro dessa "famosa Madame" que ele tinha lido, e o único publicado em inglês na época, era "A Ética da Ambigüidade", e acrescentou: "ler isso, é ficar boiando. Se você entender o sentido, me envie um cartão postal", disse ele, sempre brincalhão. É importante precisar para as leitoras feministas da revista que Algren foi um dos primeiros defensores dos direitos das mulheres. Foi lá mesmo, em seu apartamento sem sala de banho, na Avenida Wabansia, 1523, que Simone lhe mostrou as primeiras notas sobre "O Segundo Sexo". A única crítica de Nelson é que ela havia praticamente ignorado as corajosas mulheres americanas que bem cedo se juntaram ao combate: Sojourner Truth, a evangelista negra, nascida em 1797, Elizabeth Candy Stanton, Susand B. Anthony, Ida B. Wells, Margueret Sanger, a pioneira do controle de natalidade. Ensinando ou enriquecendo Simone de Beauvoir de conhecimentos sobre os primeiros combates pelos direitos das mulheres nos Estados Unidos. "Eu gastei uma fortuna para lhe enviar esses troços", ele reclamava. Eu me encontrava então nessa situação, fotógrafo estagiário da Life Magazine (inicialmente contratado para carregar as sacolas e escrever as legendas), quando eu vi Beauvoir sair do banho e ficar se penteando na frente do espelho. Eu rapidamente tirei duas ou três fotos e ela escutou os cliques. "Você é um rapaz malvado", ela me disse, no entanto, ela nem me pediu para que eu parasse de fotografar, nem fechou a porta. A foto que vocês publicaram é para mim a melhor de todas. Eu entendo que a revista tenha usado Photoshop para corrigir a curvatura das pernas - mas eu acho que isso não acrescenta nada ao frescor da imagem original, muito pelo contrário. Tendo dito isso, eu também reconheço a necessidade de retocar as imagens para uma capa. Essa foto é uma das favoritas dos colecionadores que compram minhas fotos em Chicago. Eu falei com Nelson das fotos de Simone mas ele parecia estar mais interessado em saber se ela teria ou não tentado me seduzir. Eu acho que fui negligente de não ter enviado uma cópia das imagens para "Madame", mas eu trabalhava os 7 dias da semana, e eu acredito, pensando nisso, que tinha medo que Nelson ficasse raivoso se eu publicasse as fotos ou enviasse a ela e não a ele. Rapidamente, eu esqueci esse episódio. Quando eu reencontrei os negativos, sobre os quais também havia um retrato dela numa livraria, a publicação dessa foto não tinha até então nenhum valor de marchandise. Alias, eu fiquei anos sem as ampliar, porque o rolo das pranchas-contato com os negativos tinham sido perdidos numa inundação da nossa casa em Illinois. Mas eu tinha ampliado duas fotos sobre um filme maior, um Rolleiflex, e então eu possuía outros negativos. Eu sei que Nelson enviou à Simone um desses retratos duplos. Retrospectivamente, eu me dou conta, que meus horários sobrecarregados da época me fizeram perder (e vocês também perderam) uma formidável sequência. Nelson continuava a me convidar, eu e minha mulher, para os weekends em sua casa de Miller Beach, onde Simone às vezes ficava. Se eu tivesse podido ir nessa casa, talvez eu pudesse ter fotografado ambos, Simone e Nelson, nus. Para mim, é o inverso do que cantava a amiga de Simone, Edith Piaf: "Je les regrette" - eu me arrependo - (NDR, em francês no texto). Uma outra estória para guardar, nas páginas 136 - 137 do meu novo livro, "Chicago's Nelson Algren", eu mostro Nelson batendo num saco de boxe, um punchbag, seus músculos  abdominais protuberantes. Eu anotei em algum lugar: "Madame dizia que os músculos da minha barriga lembravam os de Marcel Cerdan" se gabava Nelson quando falava de Beauvoir. E ele acrescentava orgulhosamente: "talvez eu aguentasse segurar uns dois rounds contra o Cerdan". Como os colecionadores de fotos reagem a essa foto? Com entusiasmo. Eu sou conhecido no fotojornalismo por ter sido o primeiro paparazzo a fotografar a máfia em 15 cidades e feito a cobertura de 55 estórias criminais para as revistas Time, Life, Fortune e Sports Illustrated. Um curto artigo na Life, escrito por seu maior jornalista especializado na sessão "cotidiano" (faits divers), Sandy Smith, dizia: "Art Shay é corajosamente ousado". O escritor Garry Wills escreveu no prefacio do meu livro "Album for an Age": "Minha admiração é, primeiramente, pelo talento e pela coragem de Shay que jamais enfraqueceram. Como isso é possível? Simplesmente olhe as fotos que ele faz". Minha filha mais velha é advogada, é uma ardente feminista, que solicita ao meu próprio editor que ele publique um livro coescrito por ela chamado "O Guia dos Direitos Legais Para as Mulheres". Ela não acha que eu tenha que me desculpar com quem quer que seja pelo meu trabalho e eu penso a mesma coisa. Convide seus leitores a verem a ampliação original e muitas outras fotos minhas na minha exposição na Galeria Albert Loeb, rue des Beaux Arts (Paris), de 22 de abril até 28 de maio. Por Art Shay

SIMONE DE BEAUVOIR, NELSON ALGREN E ART SHAY 

Fotos: Simone de Beauvoir, Nelson Algren e Art Shay

Simone de Beauvoir foi uma escritora feminista, filósofa existencialista e intelectual renomada.  Ela sempre esteve intimamente ligada em seu relacionamento amoroso, ao longo de sua vida, com o filósofo Jean-Paul Sartre. Em Chicago, ela se apaixonou por Nelson Algren. Devido a esta paixão, ela acabou escrevendo, sobre esta história de amor, o livro Os Mandarins (Les Mandarins), que foi dedicado a Algren. Nelson Algren, por sua vez, era um escritor americano que ficou muito conhecido com o seu livro O Homem do Braço de Ouro. Um romance de 1949, que ganhou o National Book Award e foi adaptado para o cinema, em 1955, com o mesmo título. De acordo com Harold Augenbraum, no final dos anos 1940 e início dos anos 1950, ele foi um dos melhores e mais populares escritores dos Estados Unidos. Como amante de Simone de Beauvoir, ele se tornou o "herói" de seu romance Os Mandarins. Muitos afirmam que por causa deste livro, ele acabou escrevendo o romance "A Walk on the Wild Side", que o fez ainda mais famoso pela canção de Lou Reed.  Art Shay cresceu no Bronx e viveu e trabalhou em Chicago desde 1948. Ele foi um navegador da Força Aérea dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial, quando realizou mais de 52 missões e foi agraciado com a Croix de Guerre pelo Governo francês devido seus méritos durante a guerra. Tonou-se um fotojornalista no início dos anos 50, trabalhando regularmente para o Time, Life, Fortune e o New York Times Magazine, entre outras. Shay estabeleceu uma reputação mundial por seus retratos incomuns. Suas fotos de Marlon Brando, Nelson Algren, Liz Taylor, Simone de Beauvoir, JFK, e centenas de outros retratam pessoas 'off-guarda', isto é, desarmadas. As fotografias de Shay, além de serem vendidas para diversas galerias de arte, também são expostas em coleções permanentes de grandes museus, incluindo o National Portrait Gallery e o Art Institute of Chicago.


[Fonte: Baseado no Le Nouvel Observateur]
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ART SHAY E AS FOTOGRAFIAS DE SIMONE DE BEAUVOIR NUA

© Fotos de Art Shay. A filósofa existencialista e ícone feminista Simone de Beauvoir, Chicago, 1952. Fotos da filósofa existencialista e ícone feminista Simone de Beauvoir nua de costas num banheiro. O fotógrafo Art Shay fez essa célebre foto em Chicago em 1952. Art Shay era amigo do escritor Nelson Algren, o amante de Simone na época. O fotógrafo viu a cena pela porta entreaberta da sala de banho e a eternizou para sempre. “Como jovem fotógrafo da Life Magazine, eu sempre levava minha Leica comigo. E nesse dia não era exceção. Estritamente falando, sim essa fotografia foi roubada, segundo uma ótica feminista. Eu me encontrava então nessa situação, fotógrafo estagiário da Life Magazine (inicialmente contratado para carregar as sacolas e escrever as legendas), quando eu vi Beauvoir sair do banho e ficar se penteando na frente do espelho, eu rapidamente tirei duas ou três fotos e ela escutou os cliques. 'Você é um rapaz malvado', ela me disse, no entanto, ela nem me pediu para que eu parasse de fotografar, nem fechou a porta para mim. Madame não era "uma instituição" nessa época, era acima de tudo a amante estrangeira do meu amigo”, afirmou o fotógrafo em entrevista para a revista francesa Le Nouvel Observateur em 2008


[Fonte: Baseado no Coletivo Les Enfants Terribles Blogspot]
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VÍDEOS
1 -  Os Amantes do Café Flore - Cinebiografia do casal Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre.
2 - Uma Entrevista com Simone de Beauvoir - Arquivo N / Globo News.
3 - Documentário Simone de Beauvoir, Uma mulher atual.
4 -
 Fotografias de Paris, de um dos maiores fotógrafos europeus da história, Brassaï (Gyula Halász), de origem húngara.
5 - Lee Morse canta o tango In The Hush Of The Night (No Silêncio Da Noite, 1929), uma espécie de tangoblues de Lerner & Hoffman. Morse era uma cantora muito popular na Europa dos anos 1920/30. Aqui ela ilustra as fotos de Brassaï, que havia trabalhado em Paris nesta época.
6 - Juliette Grego canta Saint-Germain-des-Prés, onde localiza o Café de Flore. Ela, por sua vez, foi considerada a musa do existencialismo.
7- Juliette Grego canta 'Il n´y a plus aprés', onde aparece o Café de Flore. 
8- O Café de Flore atualmente.
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