sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
Augusto dos Anjos: Psicologia de um vencido
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundíssimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Castro Alves: O navio negreiro
I
'Stamos em pleno mar. Doudo no espaço
Brinca o luar - dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar. Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
- Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar. Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar. Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo - o mar em cima - o firmamento.
E no mar e no céu - a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra - é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar - doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
II
Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.
Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
- Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!
O Inglês - marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês - predestinado -
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!
Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu!
III
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais, inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí. Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
IV
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
V
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma - lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
Adeus, ó choça do monte,
Adeus, palmeiras da fonte!...
Adeus, amores... adeus!...
Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...
VI
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
'Stamos em pleno mar. Doudo no espaço
Brinca o luar - dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar. Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
- Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar. Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar. Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo - o mar em cima - o firmamento.
E no mar e no céu - a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra - é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar - doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
II
Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.
Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
- Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!
O Inglês - marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês - predestinado -
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!
Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu!
III
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais, inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí. Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
IV
Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."
E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
V
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma - lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
Adeus, ó choça do monte,
Adeus, palmeiras da fonte!...
Adeus, amores... adeus!...
Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...
VI
Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
Plínio Marcos e o Corinthians: texto publicado na Folha de São Paulo em 1976.
E ELE NÃO É CORINTIANO...
São muitos os caminhos
O Coríntians tem a maior torcida do mundo. Só que a torcida do Coríntians se divide em duas facções: existem os que torcem a favor e os que torcem contra o Coríntians.
O pão do espírito é necessário
O cara que sempre pega a pior, que só come capim amargo pela raiz ou bagulho catado no chão da feira; o cara que mora na beira dos corregos e quase se afoga toda vez que chove; o cara que vê toda hora seus mais ternos sentimentos esmagados nas cruentes batalhas sem glória do seu dia-a-dia; o cara que a toda hora se sente a alegria do circo, constrangido pelas impossibilidades do seu salário miserável; esse cara abriu a boca pálido de espanto e, com a voz rouca de tanto berrar da geral sem nunca influir no resultado, murmurou baixinho:
- Este ano é nosso.
Depois gritou:
- O da gravata, suspende o sortido que eu pedi. Domingo vou no Maracanã ver nosso Coringão faturar o Flu.
E o cara sorriu, como se estivesse bem alimentado.
Uma religião não atrapalha a outra
Os ogãs, acanhados, chegaram junto à Mãe Grande de um terreiro de muita valia e o mais velho foi explicando meio encabulado:
- Olha, mãe, a gente tá sabendo que tem festa pra Iemanjá, nesse domingo... mas olha, mãe...a gente é de muita fé... mas esse domingo não vai dar pra gente ir na Praia Grande... Domingo... a senhora sabe...
E a Mãe de Santo interrompeu com toda sua compreensão:
- Tou sabendo, tou sabendo. Só que ninguém vai ficar em falta com Iemanjá. A gente vai pro Rio de Janeiro. Lá tem mar, não tem? Então. Logo cedo a gente oferece o que tem que oferecer prá Santa e depois vamos pró Maracanã torcer pelo Coringão.
O reino de Deus é dos puros
"Esse ano é do Coríntians". E se não for, qualquer corintiano terá forças para esperar mais vinte e dois anos ou até a vida toda por um título, sem esmorecer. A glória do corintiano é ser corintiano.
Aliás, já no tempo da Bíblia, o Coringão tomava ferro. Outro dia abri a Bíblia e vi lá: Corintius I, Versículo II. E naquele tempo, Matheus não era presidente. Apenas assinava uma coluna.
O Coríntians tem a maior torcida do mundo. Só que a torcida do Coríntians se divide em duas facções: existem os que torcem a favor e os que torcem contra o Coríntians.
O pão do espírito é necessário
O cara que sempre pega a pior, que só come capim amargo pela raiz ou bagulho catado no chão da feira; o cara que mora na beira dos corregos e quase se afoga toda vez que chove; o cara que vê toda hora seus mais ternos sentimentos esmagados nas cruentes batalhas sem glória do seu dia-a-dia; o cara que a toda hora se sente a alegria do circo, constrangido pelas impossibilidades do seu salário miserável; esse cara abriu a boca pálido de espanto e, com a voz rouca de tanto berrar da geral sem nunca influir no resultado, murmurou baixinho:
- Este ano é nosso.
Depois gritou:
- O da gravata, suspende o sortido que eu pedi. Domingo vou no Maracanã ver nosso Coringão faturar o Flu.
E o cara sorriu, como se estivesse bem alimentado.
Uma religião não atrapalha a outra
Os ogãs, acanhados, chegaram junto à Mãe Grande de um terreiro de muita valia e o mais velho foi explicando meio encabulado:
- Olha, mãe, a gente tá sabendo que tem festa pra Iemanjá, nesse domingo... mas olha, mãe...a gente é de muita fé... mas esse domingo não vai dar pra gente ir na Praia Grande... Domingo... a senhora sabe...
E a Mãe de Santo interrompeu com toda sua compreensão:
- Tou sabendo, tou sabendo. Só que ninguém vai ficar em falta com Iemanjá. A gente vai pro Rio de Janeiro. Lá tem mar, não tem? Então. Logo cedo a gente oferece o que tem que oferecer prá Santa e depois vamos pró Maracanã torcer pelo Coringão.
O reino de Deus é dos puros
"Esse ano é do Coríntians". E se não for, qualquer corintiano terá forças para esperar mais vinte e dois anos ou até a vida toda por um título, sem esmorecer. A glória do corintiano é ser corintiano.
Aliás, já no tempo da Bíblia, o Coringão tomava ferro. Outro dia abri a Bíblia e vi lá: Corintius I, Versículo II. E naquele tempo, Matheus não era presidente. Apenas assinava uma coluna.
Gregório de Matos - O boca do inferno
Ao mesmo assunto e na Mesma Ocasião
Pequei Senhor: mas não porque hei pecado,
Da vossa Alta Piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
Da vossa Alta Piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida, já cobrada,
Glória tal, e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História,
Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
Antonio Mello e a passagem do tempo em metáforas.
O que o encontro de duas senhoras no supermercado tem a nos dizer sobre a vida e a passagem do tempo
A imagem é só ilustrativa, porque hoje em dia, se você não põe imagem, ninguém lê nada. E eu quero falar do encontro que tive com duas senhoras, quando dava meu rolezinho no supermercado, e como esse inusitado encontro demonstra o descompasso entre corpo e mente.
A verdade é que, conforme envelhecemos, o corpo se deteriora de forma muitíssimo mais rápida que o cérebro. Pensamos com um i7, mas nosso corpo reage como um Pentium 5 ou inferior - algumas vezes, um 386...
Cada vez mais somos memória RAM, a matéria volátil, a memória fluida. Aquela que fica gravada no HD nos vai ficando cada vez mais inacessível, porque não nos lembramos que a armazenamos, e nos surpreendemos quando vemos aquela foto que batemos no réveillon e que juramos que jamais nos esqueceríamos dela... Abrir o Picasa (que mostra todas as imagens gravadas) pode ser uma caixa de Pandora...
Mas, tergiverso, eu dizia do encontro das duas senhoras em meu rolezinho no supermercado. Uma deve ter 70 e tantos. A outra, mais. Pois esta, a mais velha, ao se encontrar com a mais nova, surpreende-se:
- Menina!!!! Você por aqui?!!!
E as duas sorriem, felicíssimas com o encontro.
Menina... Menino... Continuamos assim, embora o corpo diga que não.
Ah, esta dicotomia ainda há de matar-nos!...
Fonte: http://blogdomello.blogspot.com.br/
Vai ter Copa! O que talvez não tenha é segundo turno!
Não Vai Ter Copa
O ano era 1970. O Ditador Presidente era o Emílio Garrastazu Médici, responsável por um dos mais sangrentos e repressores governos que o Brasil já teve.
Era o ano da Copa do Mundo. Todos nós, jovens idealistas e patriotas que éramos contra a Ditadura torcíamos para que o Brasil não ganhasse a Copa. Não queríamos a Copa.
O futebol desviaria os olhos do povo para os problemas do Brasil. A Ditadura usaria o futebol para continuar matando, reprimindo, censurando, torturando...
Não tínhamos noção da bobagem do nosso pensamento. Um pw3nsamento alienado da realidade. Porque o povão não tava nem aí pra nossa "ideologia", pra nossa "lógica" política que por ser de extrema esquerda
acabava semelhante ao outro extremo: o Fascismo.
O povão queria mesmo era futebol, e ele, o povo, sabia que uma coisa não tinha nada a ver com a outra.
Ficamos gritando sozinhos. Uma minoria de gatos pingados, ligados à classe média brasileira, em tempo de apanhar na rua se gritássemos contra a Copa ou a Seleção.
O povo continuou vendo a Copa, torcendo pelo Brasil como bons patriotas, e nós continuamos sendo presos , torturados, espancados e o pior: nem curtimos a Copa de 70. O Tri Campeonato da Seleção.
Foram precisos 14 anos depois para que a Ditadura desabasse. Mas o futebol continuou por estes 14 anos e até hoje continua empolgando as massas acima de qualquer divergência política.
Essa coisa de "Não vai ter Copa" é equivocada. Porque vai ter Copa sim. Foi decidido em organismos internacionais e a Economia é quem manda. Aprendemos isso em 1970.
A lógica certa seria:"Queremos Copa sim, mas queremos também saúde, segurança e educação."
Quem decide a Copa é o COB, a CBD, a FIFA...etc. etc..
Quem decide Saúde , Educação etc. é o Congresso Nacional e o Executivo.
Duas alçadas completamente distintas.
Mais uma vez a CIA, a velha UDN hoje travestida de PPS, e a Direita abusam da boa fé de jovens idealistas para melar o processo democrático.
Na verdade o "Não vai ter Copa" é manipulação que tem origem nessa turma que já percebeu que o que não vai ter é Segundo Turno.
Fonte: http://blogdobemvindo.blogspot.com.br/
Começo a achar estranho, mas recebo notícias que falam bem da Coréia do Norte. Será arquiteturação midiáditca o que se anda dizendo na grande imprensa?
2014, ano de grandes saltos e transformações na Coreia Socialista
2014 será um ano de luta impetuosa e de grandes transformações em que abriremos a prosperidade da Coreia de Songun, ao conquistas novos saltos em todos os domínios da construção de um Estado socialista poderoso e próspero, declarou Kim Jong Um, Máximo Dirigente da República Popular Democrática da Coreia, em sua mensagem de Ano Novo e lançou ante o Partido do Trabalho da Coreia e o seu povo a consigna combativa: Com a firme confiança na vitória, levantemos um forte vento para dar grandes saltos em todos os domínios na construção de um Estado poderoso e próspero!
O que atrai especial atenção em sua mensagem é que ele concedeu prioridade a agricultura, a construção e o setor das ciências e da técnica. Exortou que esses setores sejam a vanguarda na marcha com a tocha de inovações, que incentivam o avanço de todos os demais domínios da construção socialista.
Este ano se cumpre o cinquentenário da publicação das Teses Sobre o Problema Rural Socialista escritas pelo Presidente Kim Il Sung (1921-1994), fundador da Coreia Socialista.
Neste significativo ano, Kim Jon Un pretende evidenciar a justeza e a vitalidade das teses mediante o fortalecimento das revoluções ideológica, técnica e cultural no campo e a conquista de transformações decisivas na produção agrícola. Daí ter enfatizado que os eforços desse ano pela construção econômica e a melhora da vida do povo devem considerar a agricultura como a maior prioridade e concentrar a força nela. Disse que nesse setor se introduzirá de modo ativo os científicos métodos de cultivo e trabalharão com grande responsabilidade até conquistas a todo custo a meta de produção de cereais apresentadas pelo Partido e que promoverão a pecuária e ampliarão o cultivo de cogumelos e de verduras em estufas para que o povo se beneficie da maior quantidade possível de seus produtos.
Propôs abrir neste ano uma nova era de prosperidade na construção.
Apresentou ao setor a tarefa de levantar muitos edifícios de categoria mundial que representem a era de Songun e obras destinadas a melhorar a vida dos habitantes; acelerar e terminar na data prevista as obras importantes como a construção de centrais hidroelétricas ao longo do rio Chongchon, a base pecuária na zona do Sepho, a Fazenda de Frudas de Kosan, a recuperação de pântanos e os canais de irrigação para a província de Hwanghae do Sul; impulsionar energicamente a construção de moradias, albergues e outros edifícios destinados a melhorar as condições e o ambiente da educação e levantar estabelecimentos culturais e de serviço; seguir levantando majestosas e elegantes construções na cidade de Pyongyang e ressaltar a peculiaridade de cada província, cidade e distrito, mediante a cooperação de militares e civis.
As ciências e a tecnologia são a força motriz que impulsionam a edificação de um Estado poderoso e próspero e de seu desenvolvimento depende a felicidade do povo e o destino da pátria.
Esse setor deve resolver os problemas para o futuro do desenvolvimento da economia nacional e a melhora de vida do povo, superar os demais na tecnologia de ponta e abrir um atalho para a estruturação da economia do conhecimento. Os científicos e técnicos, montados no cavalo alado que fora relegado pelo Partido e valendo-se de todo o talento e entusiasmo, devem conquistar grandes êxitos em seu trabalho e ser genuínos patriotas que contribuía com a edificação de uma pátria rica e poderosa. Em toda a sociedade concederão prioridade as ciências e a tecnologia, tanto que todos os funcionários e trabalhadores aprenderão com aplicação, levantando a consigna que os convoca a ser talentosos cientistas e técnicos.
Após mencionar sobre as indispensáveis inovações no setor priorizado, as industrias básicas, e o restante das esferas da economia nacional, aclarou detalhadamente as tarefas das industrias metalúrgica, química, elétrica e carvoeira e do setor de transporte ferroviário.
Além disso, falou sobre a necessidade de dedicar grande empenho na industria leve e pesqueira, destinada a melhorar a vida da população.
Convocou a proteger e aumentar de maneira ativa as riquezas do país, entre elas os recursos subterrâneos, florestais e marítimos, e impulsionar com energia o reflorestamento com a participação de todo o povo e sublinhou concretamente as tarefas encaminhadas a dar grandes passos de avanço na educação e outros ramos da cultura, a elevar a capacidade de defesa nacional ao seguir dedicando grandes esforços a consolidação ainda maior da base político-ideológica da Coreia Socialista.
Kim Jong Un aclarou sobre os caminhos para conquistas a meta do presente ano. Resumindo, a primeira é ativar ao máximo o potencial espiritual das massas, segundo, estabelecer uma firme disciplina e ordem revolucionárias em todos os campos e, a terceira, fazer com que os quadros se esforcem por todos os meios para cumprir sua missão como membros dirigentes da revolução e fiéis servidores do povo.
Movidos pela mensagem de Ano Novo de Kim Jong Un, o povo coreano está redobrando sua determinação, com a firme fé na vitória dos grandes saltos em todos os domínios da construção de um Estado poderoso e próspero, para assim firmar este ano como o ano da luta impetuosa e das grandes transformações.
Fonte:http://solidariedadecoreiapopular.blogspot.com.br/
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
Mouzar Benedito, ao comentar romance angolano, mostra muitas semelhanças com nosso Brasil...
Nunca tinha lido nenhum livro de Pepetela, pseudônimo de Artur Pestana, escritor angolano de quem já tinha ouvido falar muito bem. Recentemente, caiu em minhas mãos um romance de sua autoria, chamado Predadores. Li e gostei muito.
Nesse livro, Pepetela retrata com um certo desencanto a sociedade angolana dos tempos atuais, que não caminhou muito para a direção sonhada pelos guerrilheiros socialistas que lutaram pela liberdade e para construir uma sociedade – como se deduz pelo título e pelo enredo – sem predadores.
O livro mostra, entre outras coisas, a trajetória de um personagem que começou a desapontar depois da independência do país, em 1975. Isso sem ter tido nenhuma participação política durante a guerra, mas que manipulou a história de seu passado, se autoproclamando um grande revolucionário ligado ao MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), tendência guerrilheira de tendência marxista que, com apoio dos cubanos, depois da independência teve que enfrentar duas outras guerrilhas para permanecer no poder, ambas de direita: a UNITA (União Nacional para Independência Total de Angola) e a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola), uma atacando pelo sul e outra pelo norte, com apoio da África do Sul e dos Estados Unidos.
Esse personagem, de nome José Caposso, mais que o que chamamos aqui de “alpinista social”, um aproveitador corrupto, quando lhe foi conveniente, mudou seu nome para Vlademiro, dizendo que o nome lhe fora dado pelo pai em homenagem a Lenin. Fazendo amizades com novos poderosos, cavando favores e se apropriando do que podia, tornou-se muito rico. E fazendo pose de revolucionário. Enquanto isso, verdadeiros revolucionários, gente que se estropiou pisando em minas, se feriu de outras maneiras. Às vezes acabavam tendo que mendigar nas ruas. Alguns lutadores de verdade ocuparam cargos importantes, sim, como o próprio Pepetela (isso não faz parte do livro), que participou da guerrilha lutando pelo MPLA, que foi vice-ministro da Educação durante o governo de Agostinho Neto.
Houve gente que manteve a decência, mas houve quem se locupletou e também gente que nunca fez nada e conseguia “provar” com falsas testemunhas que um sujeito que sempre foi honesto e manteve sua linha revolucionária na verdade era um traidor.
O certo é que como acontece em quase todos os processos revolucionários, enquanto algumas pessoas lutam e se arriscam, há quem dedique seu tempo ao planejamento de um futuro à conquista de favores e poderes pessoais; manipulando, se ajeitando, cavando contatos e postos. E quando o grupo rebelde toma o poder esses sujeitos são capazes de “provar” que sempre foram os bons, enquanto os batalhadores eram na verdade os aproveitadores.
E não é só em processos revolucionários, também no processo de democratização de um país, nos partidos, nos sindicatos e em tudo. Quando se chega ao poder, muitas vezes os companheiros de verdade são colocados de lado, enquanto oportunistas deitam e rolam, tornam-se os companheiros do momento. Quem cobra princípios é visto como porra-louca, maluco ou desleal, e pode ser considerado inimigo maior do que os verdadeiros inimigos.
Mas além de apreciar a qualidade do romance e de ter inevitavelmente lembrado de certos personagens (que não são incomuns por aqui também), me diverti observando não só o estilo literário, o modo de construir frases, mas também o vocabulário do português de Angola, recheado de palavras de origem dokimbundo e de outras línguas nativas.
No livro publicado aqui pela editora Língua Geral, foram respeitadas “as singularidades lexicais, ortográficas e sintáticas do português de Angola”. Então, há muitas palavras que não estão no vocabulário brasileiro, assim como não há no português de lá muitas palavras que usamos aqui, de origem tupi, principalmente, e também gírias.
Isso me remeteu mais uma vez ao batido tema da unificação da língua portuguesa, uma besteira enorme. Temos milhares de palavras tupis no nosso vocabulário, lá eles têm muito do kimbundo – em Moçambique certamente devem ter expressões deles e assim por diante. Claro que as telenovelas brasileiras levaram para outros países lusófonos expressões típicas daqui, mas nem todas.
Achei muito bom o tal respeito ao português falado em Angola. “Traduzir” para o português falado no Brasil empobreceria muito o livro. A gente vai lendo, deduzindo o significado de algumas palavras, procurando os significados de outras em bons dicionários ou mesmo na internet, e assim por diante. E enriquecemos o nosso vocabulário. Nem por isso deixamos de compreender e apreciar o texto.
Vou citar algumas palavras aqui, tanto de gírias locais como de línguas indígenas. Aí vão:
Kambo é camarada, companheiro.
Kimbo é povoado rural, aqui chamamos de bairro rural ou vila.
Musseque é aglomeração de moradias pobres, aqui chamamos de favela.
Bué é muito, bastante.
Kumbu é uma gíria para dinheiro, aqui traduziríamos por grana, “bufunfa”…
Haka! é uma interjeição de espanto, aqui, conforme o tradutor, poderia ser caramba!, nossa!, ou o nordestino vixe!.
Mini-autocarro lá é o que aqui chamamos de van.
Kuribotices são fofocas
Mujimbo é boato.
Kilapi é calote.
Kinhunga é uma gíria para pênis, o equivalente a piroca aqui.
Kitata é prostituta.
Puxar passas é o que aqui chamam de puxar fumo, fumar maconha (que lá éliamba).
De borla é de graça.
Caxico é bajulador, aqui o chamaríamos de puxa-saco.
Muadié é individuo de respeito.
Pagar a gasosa é dar propina.
Chá de caxindé é capim cidreira.
Engonhar é estar com preguiça de trabalhar.
Numa certa altura, Vlademiro, que não acredita em feitiçarias diz à mulher que o que chamam de feiticeiros “são mambos de matumbo do mato”, quer dizer, numa “tradução” livre, curandeiros de caipiras da roça.
Maka é um problema grande, delicado ou complexo. Quando o sujeito não faz alguma coisa porque não quer makas, podemos dizer que ele quer evitar encrencas brabas.
Vlademiro certa vez se pergunta “que tipo de empresa criar. Ou cassumbular, que sempre foi mais fácil”. Cassumbular aí é se apoderar de alguma coisa de alguém.
Quando diz que está marimbando, ele quer dizer que está pouco ligando para alguma coisa.
Um personagem, menino que vive nas ruas, vendendo pilhas, tem que brigar muito para manter seu espaço, brigar até por um buraco para dormir. Mas ele encara quem tenta tomar o espaço dele: “Aprendi um bué de bassulas”. Ou seja: “Aprendi um monte de golpes para derrubar o adversário”. Mas às vezes tem quecorrer do pente (o rapa que como aqui toma coisas dos camelôs – lá não existe essa palavra) e dos caínga (polícia, que os achaca como aqui) e se vacilar pode até ir para a kionga (cadeia).
Algumas coisas a gente deduz sem “traduzir” perfeitamente. Por exemplo: ele diz que cheirar gasolina o deixava “porreiro” e que comia só coisas “compradas nas zungueiras”.
Enfim, ler Predadores, de Pepetela valeu muito para mim. E acho que valerá para outros leitores.
***
Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo,Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças.
Fonte:http://blogdaboitempo.com.br/
Panorama latino americano visto pelo prisma da José Martí de Belo Horizonte.
2014 será o ano da liberdade dos herois cubanos
e de muitas conquistas globais para Cuba, para a América Latina e para a humanidade.
No plano econômico Cuba inaugura nos próximos 30 dias o Porto de Mariel, a maior obra do Caribe e que visa enfrentar o gargalo que estava se formando devido ao forte crescimento econômico da última década. A América Latina estará cada vez mais integrada e investindo em infraestrutura conjunta nos moldes do projeto iniciado por Hugo Chávez nos âmbitos da ALBA e da CELAC . No plano global vamos ver já nos próximos anos as economias da Russia e do Brasil passando a da Alemanha; a China ultrapassando os EUA; assim como a da Índia já ultrapassou a economia do Japão pelo critério de paridade poder de compra (PIB - PPP). Isso irá diminuir a força do EUA e dos seus aliados obrigando-os a conviver com a diferença.
No plano político teremos importantes eleições como na Colômbia e no Brasil. No entanto, estamos empenhados em mostrar ao mundo as injustiças cometidas e que sistematicamente tem sua notícia vedada para acesso do cidadão. Por isso é que a nossa campanha todo "dia 05 é dia de luta pelos 05 heróis cubanos" vai continuar até que todos estejam de regresso a Cuba. Abaixo veja as fotos da manifestação de janeiro que ocorre todo dia 05 em todo o mundo e em Belo Horizonte é na Praça Sete a partir das 14h.
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No plano econômico Cuba inaugura nos próximos 30 dias o Porto de Mariel, a maior obra do Caribe e que visa enfrentar o gargalo que estava se formando devido ao forte crescimento econômico da última década. A América Latina estará cada vez mais integrada e investindo em infraestrutura conjunta nos moldes do projeto iniciado por Hugo Chávez nos âmbitos da ALBA e da CELAC . No plano global vamos ver já nos próximos anos as economias da Russia e do Brasil passando a da Alemanha; a China ultrapassando os EUA; assim como a da Índia já ultrapassou a economia do Japão pelo critério de paridade poder de compra (PIB - PPP). Isso irá diminuir a força do EUA e dos seus aliados obrigando-os a conviver com a diferença.
No plano político teremos importantes eleições como na Colômbia e no Brasil. No entanto, estamos empenhados em mostrar ao mundo as injustiças cometidas e que sistematicamente tem sua notícia vedada para acesso do cidadão. Por isso é que a nossa campanha todo "dia 05 é dia de luta pelos 05 heróis cubanos" vai continuar até que todos estejam de regresso a Cuba. Abaixo veja as fotos da manifestação de janeiro que ocorre todo dia 05 em todo o mundo e em Belo Horizonte é na Praça Sete a partir das 14h.
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Fonte: http://associaojosemartimg.blogspot.com.br/
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