por Paulo Jonas de Lima Piva
Numa democracia, não se governa sem alianças. E só alianças por afinidades ideológicas não são suficientes. Alianças precisam ter força, precisam ser capazes de promover governabilidade. É o nosso presidencialismo de coalizão. O voto popular que enche o Congresso Nacional de homens de valor também emprega porcarias. E como numa democracia a vontade popular deve ser feita, deve ser considerada sagrada, mesmo que um deputado seja um Bolsonaro ou um Marco Feliciano a vontade dos eleitores precisa ser acatada. E é com esses personagens escolhidos livremente pelos eleitores que um presidente da república terá de governar, é com eles que o presidente da república terá de sentar e negociar os rumo do país. Não há como escapar. O presidente da república olha para o Congresso Nacional e pensa no seu íntimo: "É o que tem pra hoje".
Na política tal como ela, na democracia brasileira tal como está formatada hoje, as distinções conceituais da pura teoria não se adaptam perfeitamente. Estas sofrem uma certa hibridez, uma certa mistura imposta pela lógica da eficácia exigida pelos fatos. É por isso que pensadores políticos como Norberto Bobbio fazem questão de ressaltar que o mais rigoroso e mais realista é pensarmos num centro e num extremo quando pensamos em direita e esquerda efetivamente, pois a disputa política é muito dinâmica, muito caudalosa, contraditória e dialética. Centro esquerda, extrema direita, centro direita, extrema esquerda.
Na política tal como ela é, ela é sempre a sua conjuntura, que é por sua vez a configuração das forças em disputa, que pode mudar de uma hora para outra. Vejamos um caso brasileiro recente. Lula chegou ao Planalto com a ida do PT, seu partido, ao centro do espectro político. Concretamente falando, para eleger seu principal líder o PT precisou se coligar com um setor da direita, no caso, José de Alencar, um empresário representante do capital produtivo e simpatizante de um projeto de Brasil mais nacionalista, que virou vice do ex-sindicalista. A extrema esquerda, obviamente, chiou muito com essa jogada no tabuleiro.
Mas só José Alencar, membro de um pequeno partido político de centro direita, não foi suficiente para garantir governabilidade. Foi quando o PMDB, o velho PMDB, também entrou para a base de sustentação do governo Lula, e, depois, do governo Dilma, o que aumentou ainda mais a gritaria por parte da esquerda dogmática e sectária. Já outro companheiro de velha direita do PMDB, o DEM, resolveu ficar do outro lado da trincheira, agarrado ao PSDB, seu sócio de governo nos anos FHC. E analisando o comportamento concreto, efetivo e objetivo dessas duas faces mais expressivas da velha direita brasileira, constatamos que o PMDB foi mais à esquerda com Lula e Dilma, sendo útil ao projeto desenvolvimentista do PT, e o DEM, junto com o PSDB, assumiram posições que os levaram para bem longe do projeto de centro esquerda capitaneado pelo PT, rumo quase à fronteira com a extrema direita. De modo que, do ponto de vista desse projeto de centro esquerda, podemos falar em dois tipos de direita, para além da distinção centro direita e extrema direita: a direita flexível e cooperadora e a direita odienta e destruidora. Dito de outro modo, a direita útil e a pior direita.
O oligarca José Sarney é, digamos, um representante dessa direita útil. Seu grupo de deputados e senadores apoiou no Congresso Nacional todas as principais políticas dos governos de Lula e Dilma que diminuíram a pobreza e melhoraram a vida da maioria dos trabalhadores brasileiros nos últimos doze anos, do Bolsa Família ao Pronatec, passando pelo Prouni, pela criação de universidades publicas, implantação do Mais Méidcos e outras. Já a direita representada pelo DEM e pelo PSDB, ao contrário da direita de Sarney, Collor e de outras velhas raposas, fez de tudo para sabotar essas políticas dos governos petistas que tantos benefícios públicos produziram.
O PSOL é um desses partidos sectários e messiânicos da extrema esquerda brasileira que mais barulho fizeram em torno das coligações do PT com o PMDB e outros partidos de direita. Entretanto, nas eleições deste ano, o partido está pagando caro pelo que criticou no PT. O PSDB de Alagoas, por exemplo, declarou apoio ao nome de Heloísa Helena, candidata do PSOL ao senado, numa articulação chamada de "aliança branca". Ou seja, o PSOL prefere se aliar à pior direita, isto é, a direita demotucana, aquela que fez de tudo para sabotar as políticas petistas que beneficiaram como nunca milhões de trabalhadores e excluídos brasileiros, do que apoiar os governos Lula e Dilma. De fato, uma lógica purista bastante bizarra.
Randolfe, do PSOL, e Aécio, do PSDB
Seja como for, a lógica da política tal como ela é é implacável e nenhum grupo que chegue ao Planalto dela escapará enquanto não houver uma Reforma Política profunda no país: como não dá para governar sozinho e só a base de boas intenções e utopias românticas, antes uma direita útil aos mais pobres do que uma direita que quer a destruição de um governo democrático e popular, como é a direita representada pelo PSDB e pelo DEM, com quem o PSOL se deita às vezes, às escondidas.
Em suma, há diferença entre aliar-se a Sarney e aliar-se ao PSDB e ao DEM.
Fonte: http://www.opensadordaaldeia.blogspot.com.br/2014/08/a-pior-direita-e-direita-util.html
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