segunda-feira, 3 de março de 2014

Consequências de uma educação de direita na Venezuela.

Estudantes venezuelanos apoiam a direita e defendem seus próprios privilégios

Postado em 3 de March de 2014 às 10:40 am

Bolas de golfe servem de munição quando acabam as pedras para armar estilingues. Nos capacetes de proteção, micro-câmeras de alta definição registram as ações dos adversários. Motos de alta cilindrada facilitam a rápida locomoção entre os focos de protestos. Telefones inteligentes transmitem ao vivo o confronto com policiais. Walkie-talkies virtuais acompanham e coordenam declarações políticas.
Todos esse aparato faz parte do “arsenal” utilizado pelo movimento estudantil que tomou as ruas de Caracas para exigir a renúncia do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
Os jovens venezuelanos que estão nas ruas há mais de três semanas não diferem de seus pares latino-americanos somente pelos recursos utilizados em suas manifestações. A maioria vem de famílias de classe média alta.
“Estamos brigando contra o socialismo, certamente”, disse à BBC Brasil a estudante universitária Emily Vera, membro do movimento JAVU (Juventude Ativa Venezuela Unida), um grupo estudantil alinhado à direita radical.
Entre as técnicas de protestos utilizadas pela JAVU está a greve de fome.
Emily conta que permaneceu 25 dias sem comer, junto a outros colegas, para exigir a libertação de supostos presos políticos, acusados pelo Ministério Público de assassinatos. A medida de pressão não foi atendida pelo então presidente Hugo Chávez, morto em março de 2013.
De acordo com especialistas ouvidos pela BBC Brasil, o perfil conservador que caracteriza os jovens que protestam contra o governo reflete um processo de “direitização” do ensino universitário na Venezuela – que se aprofundou a partir dos anos 90.
Acompanhando a onda neoliberal que predominava na região, as universidades, principalmente as privadas, passaram a privilegiar em seus currículos a preparação para o mercado de trabalho, em detrimento das ciências humanas.
Quando Hugo Chávez chegou ao poder, em 1998, menos de 500 mil estudantes tinham acesso à universidade pública. Em 2013, o número de matrículas chegou a 2,6 milhões de inscritos.
Assim como ocorre no Brasil, a maioria das vagas nas universidades públicas é ocupada por alunos provenientes de escolas privadas, que chegam melhor preparados para o vestibular que os estudantes da rede pública.
Para reverter a tendência, o governo Chávez criou um sistema educacional paralelo com vistas a incluir – sem exigência do vestibular – jovens de baixa renda provenientes de escolas públicas.
Nas universidades públicas tradicionais, ainda é necessário prestar exame para competir a uma vaga. A manutenção do vestibular representa uma das derrotas amargadas pelo chavismo no campo da educação.
Outro elemento que estimula os jovens de classe média a protestar contra o projeto bolivariano é a defesa de privilégios, na opinião da socióloga e psicóloga social Carmen Elena Balbás. “É uma reação em defesa à classe social e a um estilo de vida”, afirmou ela à BBC Brasil.

Fonte: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/por-que-os-estudantes-venezuelanos-sao-de-direita/


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