sábado, 19 de abril de 2014

Sobre "O abolicionismo" de Joaquim Nabuco.

Sem muito interesse iniciei a leitura da obra em questão. Sem muitas expectativas pois mesmo sabendo que ainda incorre o preconceito racial em largas escalas no Brasil, tratava-se, ainda, no livro, de um fato ocorrido no território nacional no século XIX.

Ledo engano acreditar que o supracitado escrito se circunscrevia ao período em que foi produzido. Nada pode ser de uma atualidade maior.

Sim, é de conhecimento de todos que a abolição foi estimulada,  forçada, promulgada pela Inglaterra e que talvez o autor tivesse possíveis interesses por trás disso. Porém, não podemos deixar de lado que as oligarquias são poderosíssimas hoje no Brasil. o que pensar delas no século onde se deu o ocorrido... e mesmo que Nabuco possuísse interesses e mesmo a indústria inglesa possuísse os mesmos interesses, é de se reconhecer que um homem, aliado a outros, foi capaz de confrontar diretamente este núcleo de poder exercido pelos grandes fazendeiros.

Durante toda a leitura, encontrada gratuitamente na Internet, permaneci em inquietante questionamento, impossível de não ser suscitado: Por que ainda vejo elementos de pele supostamente branca questionando datas como a Consciência Negra? Afinal, três séculos de sequestros, estupros, trabalhos sem carga horária definidas por dia, ausência de descanso, punições físicas das mais diversas ( onde o açoite foi a menor delas), não foi o suficiente para a população negra merecer muito mais do que um dia?

Questionar o merecimento dos negros é o mesmo que concordar com a exploração feita sobre sua carne, sobre o seu sofrimento...

A obra mostra que a abolição seria questão de tempo, o que buscavam os abolicionistas era justamente acelerar o processo de libertação. E sabe qual o principal motivo que serviu de empecilho para que tal atitude não ocorresse? Os fazendeiros clamavam por uma indenização por perder uma mercadoria comprada, muitas vezes, com o trabalho de alguém que já havia sido tratado como mercadoria. Para isso, todos os coniventes, do passado ao presente, são culpados.

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