sábado, 12 de outubro de 2013

Paulo Jonas de Lima Piva, o maior intelectual do ceticismo no Brasil, comenta o que é, no seu ponto de vista, o PT.

Uma indagação pertinente: que esquerda é o PT?



por Paulo Jonas de Lima Piva

Agradeço ao amigo de Facebook Robson Carneiro de Souza pela indagação. De fato, que esquerda é o PT hoje, na atual conjuntura política, social e econômica brasileira e latino-americana? A pergunta é pertinente, necessária, instigante e não menos complexa. Assim sendo, reflitamos sobre ela.

Entendo que o PT é a esquerda que está no governo federal, que oficialmente dirige o Planalto, mas que não está no poder, ou seja, que não detém nas mãos, de forma absoluta, todas as decisões sobre o rumo político do país, logo, é a esquerda que não pode fazer tudo o que quer mesmo sendo governo. O PT é a esquerda que está no governo há mais de uma década, em meio a um fogo cruzado pesado, implacável e cotidiano, disputando o poder com a direita aliada e, ao mesmo tempo, enfrentando as reações da direita adversária entrincheirada dentro do próprio Estado brasileiro. Portanto, uma esquerda que governa em meio a todo tipo de ataques e sabotagens, sobretudo da grande mídia conservadora, bem como em meio às chantagens dos partidos fisiológicos do arco de alianças, sem os quais, inevitavelmente, a sustentação política e a governabilidade ficam inviáveis. Tal disputa, porém, está há uma década produzindo bons frutos em meio às inúmeras contradições e algumas decepções, transformando a configuração social do país na medida do possível e dentro do que permite a atual legalidade e a atual correlação das forças políticas. Nesse sentido, o PT é a esquerda possível e de resultados extremamente significativos para a melhoria de vida da maior parte dos brasileiros, sobretudo os que historicamente mais sofreram com as injustiças, apesar dos inúmeros problemas, problemas de raízes seculares, que ainda existem e persistem no nosso cotidiano.

Em suma, o PT é a esquerda do devagar e sempre; a esquerda da prudência, da inteligência, do cálculo, da experiência e da lucidez; a esquerda que não foge da maquiaveliana "verdade efetiva das coisas" tentando tirar dela o máximo de vantagem para os mais pobres; a esquerda que não se acovarda diante da realidade imperiosa e frustrante da realpolitik escondendo-se e se entorpecendo com subterfúgios moralistas, teóricos e utópicos-delirantes; é a esquerda do avanço pouco a pouco, que mata um milhão de leões por dia para concretizar os avanços sociais que vem realizando nos últimos dez anos, se equilibrando na corda bamba para não cair e ser substituído por um governo reacionário e neoliberal, o que seria um enorme retrocesso. Na distinção clássica de Norberto Bobbio no seu livro Direita e Esquerda, o PT seria uma esquerda de centro, um partido de centro-esquerda, isto é, um partido reformista e democrático movido pela igualdade como valor preponderante, como vemos na sua prática, a despeito de todos os obstáculos para tal.

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