domingo, 27 de outubro de 2013
Neurocientista canadense afirma que pesquisa em animais é errônea e por isso, novos métodos devem ser buscados.
22/10/2013 18h32 - Atualizado em 23/10/2013 01h05
Após invasão, cientista sugere que Brasil discuta leis sobre animais
Philip Low é autor de declaração sobre consciência de animais não humanos.
Canadense pede que cientistas 'não sejam demonizados' no país.
Eduardo CarvalhoDo G1, em São Paulo
68 comentários
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O neurocientista canadense Philip Low, pesquisador da Universidade Stanford e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), ambos nos Estados Unidos, disse que a invasão do Instituto Royal, em São Roque (SP), por ativistas que levaram do local cães e coelhos usados em testes dá oportunidade ao país para rediscutir as políticas de proteção aos animais, "seja para uso na pesquisa ou na indústria de alimentos".
Ele afirma que se os brasileiros se opõem à forma como os animais são usados, deveria ser considerada a “opção de mudar a lei, em vez de quebrá-la”.
Low é autor da "Declaração de Cambridge sobre a Consciência em Animais Humanos e Não Humanos", texto assinado por ele e outros especialistas ligados à área de neurociência sugerindo que animais não humanos possuem substratos neurológicos que geram a consciência.
Ele ficou internacionalmente famoso ao desenvolver um equipamento chamado iBrain, software que lê ondas cerebrais e foi testado no físico britânico Stephen Hawking.
Em entrevista ao G1 por e-mail, Low disse que o que aconteceu no país na última sexta-feira é um fato “da mais alta importância” e uma oportunidade de usar a invasão ao local, ocorrida na última sexta-feira (18), em São Roque, como mote para começar um debate nacional sobre o uso de animais na pesquisa e na indústria de alimentos, "com destruição de vidas com poucos cuidados, precauções e respeito”.
O neurocientista canadense, Philip Low
(Foto: Divulgação/NeuroVigil)
(Foto: Divulgação/NeuroVigil)
Declaração diz que animais têm consciência
O canadense disse que “como cientista, acha fundamental não nos cegarmos quanto às capacidades altamente evoluídas dos animais e nossa capacidade de realizar pesquisas de alto nível com a mínima dependência de animais”.
O canadense disse que “como cientista, acha fundamental não nos cegarmos quanto às capacidades altamente evoluídas dos animais e nossa capacidade de realizar pesquisas de alto nível com a mínima dependência de animais”.
Na Declaração de Cambridge, os cientistas apontam que há evidências indicando que animais não humanos (incluindo insetos e moluscos, como os polvos) têm atividades cerebrais que demonstram comportamentos intencionais.
O texto dos pesquisadores aponta também que os “humanos não são os únicos a possuir substratos neurológicos que geram a consciência”, mas que todos os mamíferos e as aves “e muitas outras criaturas” também apresentam tais funções cerebrais.
O documento foi escrito com o objetivo de fomentar uma reavaliação sobre a necessidade de se usar animais e técnicas invasivas durante procedimentos já que animais não humanos não conseguem comunicar “clara e prontamente” os seus estados internos.
Como exemplo, explicou que sua empresa, a NeuroVigil, desenvolve biomarcadores derivados do cérebro, bem como tecnologias para auxiliar doentes sem a necessidade de animais.
A NeuroVigil, com sede no Vale do Silício, nos Estados Unidos, foi responsável pela criação do equipamento iBrain, software que permite analisar os sinais cerebrais de uma pessoa que perdeu os movimentos corporais, detectando ondas de alta frequência dentro do crânio.
O sistema se assemelha a um fone de ouvido e registra as ondas cerebrais por meio de leituras de eletroencefalograma (EEG) a partir da atividade elétrica do couro cabeludo do usuário. Esse processo poderia produzir a fala, em um processo semelhante a um sistema já utilizado que detecta movimentos no rosto.
O iBrain ganhou notoriedade ao ser testado pelo físico britânico Stephen Hawking em 2011, quando permitiu que Low analisasse seu cérebro Hawking, que se locomove em uma cadeira de rodas, foi diagnosticado com uma doença neuromotora aos 21 anos, quando lhe disseram que teria de dois a três anos de vida.
Agora com 71 anos, ele é um dos cientistas de maior destaque no mundo, conhecido especialmente por seu trabalho sobre buracos negros e como autor do bestseller internacional "Uma Breve História do Tempo".
Os cientistas são pessoas boas, altamente treinadas e que querem ajudar a sociedade. Não devem ser demonizados. (...) Se a pesquisa deles incomoda o público, o público deveria dar a eles mais oportunidade de usar a criativdade para fazer mais trabalhos que salvem vidas dependendo menos de animais"
Philip Low, neurocientista canadense
Debate sobre nova legislação
Low enfatiza que a população insatisfeita com a forma como os animais são usados devem tentar mudar as leis.
“As pessoas podem procurar seus representantes no parlamento e pressionar por uma nova legislação que restrinja a exploração de animais, seja para alimentos, pesquisas e outros fins, e aplicar sanções significativas aos indivíduos de instituições que descumpram as novas leis”.
Ele complementa dizendo que “ao mesmo tempo, deve-se criar uma outra legislação que estimule a pesquisa com humanos” e pede respeito aos cientistas, dizendo que eles querem apenas “ajudar a sociedade”.
Low enfatiza que a população insatisfeita com a forma como os animais são usados devem tentar mudar as leis.
“As pessoas podem procurar seus representantes no parlamento e pressionar por uma nova legislação que restrinja a exploração de animais, seja para alimentos, pesquisas e outros fins, e aplicar sanções significativas aos indivíduos de instituições que descumpram as novas leis”.
Ele complementa dizendo que “ao mesmo tempo, deve-se criar uma outra legislação que estimule a pesquisa com humanos” e pede respeito aos cientistas, dizendo que eles querem apenas “ajudar a sociedade”.
“Os cientistas são pessoas boas, altamente treinadas e que querem ajudar a sociedade. Não devem ser demonizados. (...) Se a pesquisa deles incomoda o público, o público deveria dar a eles mais oportunidade de usar a criatividade para fazer mais trabalhos que salvem vidas dependendo menos de animais", complementa.
Low sugere ainda que, enquanto os formuladores de políticas discutem o assunto, uma moratória aos laboratórios que ainda usam cães para pesquisa "poderia ser um bom primeiro passo para ajudar a reduzir as tensões".
Regras no país
No Brasil, o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) é o órgão responsável por regulamentar o uso de animais em pesquisas no país. Ligado ao do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), tem uma câmara de discussão permanente sobre métodos alternativos para substituir o uso de animais em pesquisas.
Regras no país
No Brasil, o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea) é o órgão responsável por regulamentar o uso de animais em pesquisas no país. Ligado ao do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), tem uma câmara de discussão permanente sobre métodos alternativos para substituir o uso de animais em pesquisas.
Além disso, o órgão busca evitar que os animais submetidos a estudos passem por sofrimentos ou sejam tratados de maneira inadequada. A norma que regulamenta o uso de animais em pesquisas no Brasil, e que também criou o Concea, é a Lei nº 11.794, de outubro de 2008, conhecida como Lei Arouca.
Ela restringe o uso científico de animais vertebrados e permite que apenas instituições de ensino superior e estabelecimentos de educação profissional técnica de nível médio da área biomédica poderão usar animais em experiências científicas.
A norma considera atividades de pesquisa científica aquelas relacionadas com ciência básica, ciência aplicada, desenvolvimento tecnológico, produção e controle da qualidade de drogas, medicamentos, alimentos e outros testados em animais. Não são atividades de pesquisa as práticas zootécnicas relacionadas à agropecuária.
Folha cada vez mais reacionária! até leitores da VEJA são contra colunista...
ENTRADA DE REINALDO GERA CRISE NA FOLHA. FOI FRIA?
Diante da avalanche de cartas contra a contratação do blogueiro mais conservador do País, jornal de Otávio Frias se viu forçado até a bloquear temporariamente a área de comentários da Folha.com (que já foi reaberta); assinante influente, jornalista Cynara Menezes, de Carta Capital, fez artigo em que anuncia cancelamento de assinatura em protesto contra chegada de "reacionário"; diretor de redação Sérgio D'Ávila foi contra a contratação, mas Otávio Frias Filho mostrou que o que prevalece é a vontade de patrão
25 DE OUTUBRO DE 2013 ÀS 20:01
247 – Blogueiro de Veja.com, Reinaldo Azevedo estreou nesta sexta-feira 25 sua coluna no jornal Folha de S. Paulo e, por extensão, na Folha.com. Imediatamente, a crise se instalou na publicação.
Sempre desfraldando a bandeira de ser um jornal democrático, a Folha precisou bloquear temporariamente a área de comentários para a coluna de Reinaldo como única forma de conter a fúria dos leitores. Em Veja, como se sabe, o colunista conta com um filtro – ele mesmo – que não permite a postagem de comentários de oposição a seus artigos. Na Folha, já foi reaberta, após a publicação deste artigo no 247. Eis alguns comentários:
fabiovilaca (48)(01h34) há 5 horas
Caricato , veste um personagem , polemista profissional , atrasado , por ele os escravos ainda seria escravos ( e portanto aptos a serem cobaias) homossexuais seriam discriminados , mulheres não votariam . Energumeno de grosso calibre , veio emporcalhar as páginas da FOLHA . Escrevam pra Ombudsman Suzana Singer dizendo que vão CANCELAR a assinatura da FOLHA .
eu (4)ontem às 22h18
Sou assinante a mais de 20 anos da folha, por gentileza me faça um favor saia da folha antes que eu cancele minha assinatura. Por gentileza faça esse favor saia da folha
Haydn (208)ontem às 15h26
O novo colunista da Folha tem admiradores e detratores, estes, em geral, apoiadores do governo, lulo-petistas, comunistas ou socialistas, alguns inteligentes, de argumentos mais sólidos; outros, muitos outros, nem tanto! Considero-o um sucessor de José Guilherme Merquior, capaz de contrapor-se, muitas vezes, com vantagem a polemistas esquerdistas de peso. Bela aquisição da Folha; melhor para o debate democrático.
ceci (3)ontem às 15h11
Hoje mesmo já vou cancelar minha assinatura. Pior escolha trazer esse Sr.para o rol de colunistas do jornal. Seu grau de esquizofrenia é acentuado! TODOS seus textos citam o PT. Aliás, creio que a solução do Brasil é muito simples para esse indivíduo: basta eliminar o PT e estaremos salvos de tudo; o Brasil deixará de ser um país desigual, passaremos a viver em bairros devidamente saneados e arborizados, com segurança, educação e civilidade. Que fantástico!Mas aí, sobre o que ele escreveria, né!
Em seu blog, a influente jornalista Cynara Menezes, ex-Folha e hoje em Carta Capital, escreveu artigo em que anunciou o cancelamento de sua assinatura da Folha de S. Paulo em protesto contra a presença, em suas páginas, a partir de agora, de Reinaldo. Ela o classificou como um "reacionário" que marca a publicação com o que a direita brasileira tem de mais arcaico.
Entre os jornalistas da Folha, o mal-estar é geral. O diretor de redação do jornal, Sergio D'Ávila, tentou convencer Otavio Frias Filho de que a contratação não pegaria bem para uma publicação, como a Folha, que se diz plural e apartidária. Mas, naquele momento, Otavio mostrou quem é patrão.
As reações pelo desastrado movimento devem continuar, o que levanta desde já uma pergunta que não quer calar: para a Folha, contratar o conhecido blogueiro, que usa o codinome 'Reinaldoxx, o exterminador de petralhas' para deletar comentários em seu blog de Veja, foi uma boa ou foi mesmo uma fria? Se há leitores realmente dispostos a cancelar suas assinaturas, o jornal já saiu perdendo. Até porque seus admiradores poderão ler as colunas em Veja.com, uma vez que são republicadas pelo próprio Reinaldo.
Abaixo, artigo de Cynara Menezes e a reprodução da coluna de estreia de Reinaldo Azevedo na Folha:
Caí de amores pela Folha de S.Paulo aos 17 anos, em 1984, quando entrei na faculdade e o jornal apoiou a campanha pelas Diretas-Já. Até então, menina do interior da Bahia, não conhecia bem a grande imprensa. O jornal que estampava em sua primeira página o desejo de todos nós, brasileiros, de votar para presidente, me cativou. Como para vários da minha geração, trabalhar na Folha se tornou um sonho para mim.
E de fato trabalhei no jornal, entre idas e vindas, quase 10 anos. Tive espaço, ótimas oportunidades, conheci de perto figuras incríveis: Ulysses Guimarães, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Leonel Brizola, Lula. E principalmente: na Folha escrevi como quis –ninguém nunca mudou meu texto e jamais adicionaram nem uma frase sequer que eu não tenha apurado, ao contrário do que viveria nos oito meses que passei na Veja (leia aqui).
Em 2009 meu respeito pela Folha morreu. Naquele ano, o jornal publicou um artigo absolutamente execrável acusando Lula de ter tentado estuprar um companheiro de cela, um certo “menino do MEP” (antiga organização de esquerda), quando esteve preso, em 1980. Qualquer pessoa que lê o texto percebe que Lula fez uma brincadeira (de mau gosto, ok), mas o autor do artigo não só levou a sério, ou fez de conta que levou a sério, como convenceu o jornal a publicar aquele lixo.
Como eleitora de Lula, aquilo me incomodou. Por que nunca fizeram algo parecido com outro político? Por que o jornal jamais desceu tão baixo com ninguém? Apontar erros, incoerências, fazer oposição ao governo, vá lá. Dizer que Lula estuprou uma pessoa! Por favor. Me pareceu que alguém na direção do jornal estava sob surto psicótico ao permitir que algo assim fosse impresso. Vários amigos da Folha me confidenciaram vergonha e indignação com o texto.
Continuei a ler o jornal nestes últimos quatro anos mais por hábito do que por outra coisa. Quando veio o editorial em que a ditadura foi chamada de “ditabranda” não fiquei surpresa. Quando a Folha publicou a ficha falsa da candidata Dilma Rousseff no DOPS quando atuou na luta armada, tampouco. A minha própria ficha já tinha caído, lá atrás. O jornal a favor das Diretas-Já deixara de existir –ou será que nunca existiu? Afinal, antes disso a Folha havia apoiado o golpe militar. Terei eu caído num golpe –de marketing?
Hoje, 24 de outubro de 2013, tomei a iniciativa de cancelar minha assinatura da Folha de S.Paulo. O jornal acaba de contratar dois dos maiores reacionários do País para serem seus “novos” colunistas. Não é possível, para mim, seguir assinando um jornal com o qual não tenho mais absolutamente nenhuma identificação. Pouco importa que minha saída não faça diferença para o jornal: é minha grana, trabalho para ganhá-la, não vou gastá-la em coisas que não valem a pena. O mundo não é capitalista? Pois não quero, com meu dinheiro, ajudar a pagar gente que me causa vontade de vomitar.
O mais triste é que, ao deixar de assinar a Folha, deixo também de ler jornais impressos. Nenhum deles me representa. Esta é literalmente uma página que viro, dá a sensação de que perdi um amigo querido. Mas a vida é assim mesmo: às vezes amigos tomam rumos diferentes. Sem rancores.
Publicado em 24 de outubro de 2013
Confira a estreia de Reinaldo Azevedo na Folha:
REINALDO AZEVEDO
'Os 178 Beagles'
As ruas, ente divinizado por covardes, pediram o fim do voto secreto para a cassação de mandatos. Boa reivindicação. O Congresso está a um passo de extinguir todas as votações secretas, o que poria o Legislativo de joelhos diante do Executivo. Proposta de iniciativa "popular" cobra o financiamento público de campanha, o que elevaria o volume de dinheiro clandestino nas eleições e privilegiaria partidos ancorados em sindicatos, cujas doações não são feitas só em espécie. Cuidado! O povo está na praça. Nome do filme dessa mímica patética: "Os 178 Beagles".
Povo não existe. É uma ficção de picaretas. "É a terceira palavra da Constituição dos EUA", oporia alguém. É fato. Nesse caso, ele se expressa por meio de um documento que consagra a representação, única forma aceitável de governo. Se o modelo representativo segrega e não muda, a alternativa é a revolução, que é mais do que alarido de minorias radicalizadas ou de corporações influentes, tomadas como expressão da verdade ou categoria de pensamento.
A fúria justiceira dos bons pode ser tão desastrosa como a justiça seletiva dos maus. Quem estava nas ruas? A imprensa celebrou os protestos como uma "Primavera Árabe" nativa. Nem aquela rendeu flores nem o Brasil é uma ditadura islâmica. Até houve manifestações contra o governo, mas todas foram a favor do "regime petista". O PSDB talvez tenha imaginado que aquele "povo" --sem pobres!-- faria o que o partido não fez em 11 anos: construir uma alternativa. Sem valores também alternativos aos do Partido do Poder, esqueçam.
Há 11 anos o PT ataca sistematicamente as instituições, quer as públicas, quer as privadas, mas de natureza pública, como a imprensa. Dilma ter sofrido desgaste (está em recuperação) não muda a natureza dos fatos. Da interdição do direito de ir e vir à pancadaria e ao quebra-quebra como forma de expressão, passando pela reivindicação de um Estado-babá, assistiu-se nas ruas a uma explosão de intolerância e de ódio à democracia que o petismo alimentou e alimenta. O Facebook não cria um novo ator político. Pode ser apenas o velho ator com o novo Facebook --como evidenciou a Irmandade Muçulmana no Inverno Egípcio.
Em política, quando o fim justifica os meios, o que se tem é a brutalidade dos meios com um fim sempre desastroso. A opção moralmente aceitável é outra: os meios qualificam o fim. Querem igualdade e mais Justiça? É um bom horizonte. Mas será o terror um instrumento aceitável, ainda que fosse eficaz? Oposição, governo e imprensa, com raras exceções, se calaram e se calam diante da barbárie que deseduca e que traz, volte-se lá ao primeiro parágrafo, o risco do atraso institucional.
O PSOL conduziu uma greve de professores contra o excelente plano de carreira proposto pela Prefeitura do Rio. Era a racionalidade contra a agenda "revolucionária". Luiz Fux, do STF, posando de juiz do trabalho, chamou os dois para conversar. É degradação institucional com toga de tolerância democrática.
O sequestro dos beagles, tratado com bonomia e outro-ladismo pelo jornalismo, é um emblema da ignorância dos justos e da fúria dos bons. Eles atrasaram em 10 anos o desenvolvimento de um remédio contra o câncer, mas quem há de negar que os apedeutas ilustrados têm um grande coração?
Black Bloc: O McDonalds do fascismo com rótulo anarquista
No Egito, Black Bloc fomentaram golpe e atacaram manifestantes contra militares
Publicado outubro 26, 2013 r Uncategorized 2 ComentáriosTags:barbarie, Black Bloc, democracia, vandalismo
Pescado do Ponto e Contra Ponto. A matéria lembra as ações do “Black Bloc” em vários lugares do mundo.
Após aparecer nos protestos do Occupy Wall Street, onde foram acusados de tumultuar o protesto e justificar a repressão da polícia americana, acabando com o Occupy, o coletivo sem rosto que se auto denomina Black Bloc criou uma espécie de franquia mundo afora, sobretudo em países onde a democracia é frágil e/ou muito jovem.
No Brasil, esses coletivos são formados com absoluta predominância de jovens brancos de classe média que usam roupas de grife. A atuação dos coletivos geram desconfianças de que o alegado apartidarismo não se aplica na prática, como nos protestos contra o propinoduto tucano em que eles iam direto para a Câmara dos vereadores da capital paulista, quando o escândalo é do governo do estado de São Paulo. Dividiu os manifestantes e o desgaste do governador com o prefeito. Foi intencional?
Com o desconfiômetro sempre em alerta, resolvi fazer uma busca detalhada na rede sobre como se portou o coletivo Black Bloc no Egito, antes e depois do golpe. Pesquisei a ocorrência e frequência de matérias sobre eles, os perfis nas redes sociais do coletivo, onde postam em hieróglifos árabes, mas mesmo com essa dificuldade deu para perceber duas coisas: maioria das fotos postadas são de amenidades, como se o país não estivesse à beira de uma guerra civil e os vídeos postados, feitos a distância, procuram mostrar manifestantes pró Morsi atirando contra militares.
Foi difícil achar matérias sobre o Black Bloc egípcio pós golpe, a maioria dos links apontavam para sua participação efetiva nos protestos que lograram entregar o país de volta aos militares. Entre as que achei, muitas se tratavam de opinião reacionária que não levei em consideração, não há qualquer intenção de demonizar ninguém, apenas trazer aos leitores como se portou e se porta o coletivo no Egito, que enfrenta um golpe militar sangrento.
Líderes do movimento da Praça Tahir no Cairo, que levou a deposição do presidente legalmente empossado, Mohamed Morsi, deram declarações públicas afirmando que apoiavam a matança de manifestantes contra o golpe e davam aval a atuação dos militares. Esses líderes estavam muito próximos ao Black Bloc durante os protestos. Tudo estava se encaixando, só faltava o batom na cueca.
Outro grupo sem rosto famoso da história
Foi aí que eu achei uma denúncia do grupo de direitos humanos “Eye on Torture” (algo como de olho na tortura), que revela que o coletivo Black Bloc admite participação no ataque de 26 de Julho, onde ocorreu massacre de manifestantes contra o golpe. No ataque o coletivo preparou uma espécie de emboscada para os manifestantes os deixando expostos, nesse momento o Black Bloc foi protegido por militares atrás de tanques e prédios, enquanto os manifestantes pela democracia eram fuzilados. Aqui o link da matéria, está em inglês http://www.ikhwanweb.com/article.php?id=31213
È ultrajante pessoal, eu que já vi tanta canalhice nessa vida fiquei transtornado. Como pode alguém posar de anti establishment, usar símbolo da anarquia e apoiar uma ditadura militar? Eu sou um velho punk, é como uma “heresia” ver símbolos de um movimento que tentou mudar o mundo sem violência, que me trazem de volta a juventude, serem usados por um bando de fascistas movidos a interesses obscuros. Tira esse símbolo daí posers, vocês não tem direito de usar, coloca a suástica no lugar.
Só uma última observação: coletivos sem rostos cabem qualquer coisa, inclusive mercenários, tá na cara que se no Egito os Black Bloc são tudo menos anarquistas, e qualquer grupo nazifascista pode vestir a fantasia de anti-establishment para seduzir a juventude. Brasil, Turquia, Egito, coincidentemente países com diplomacia não alinhada com interesses americanos tiveram forte atuação dos Black Blocs recentemente. Tirem suas próprias conclusões.
sábado, 26 de outubro de 2013
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
O Anjo Azul
Excelente filme alemão que mostra um homem, repleto de dignidade, um professor por vezes autoritário que por preocupar-se com seus alunos, visita uma espécie de clube de libertinagem local chamado O anjo azul. neste clube conhece a atriz Lola, representada pela belíssima Marlene Dietrich.
por esta mulher se apaixona e por ela larga seu trabalho, sua vida e passa a viver por sua amada, agora esposa até virar um palhaço mambembe.
Toda a dignidade anterior torna-se decadência e humilhação. o que os homens não passam pelas mulheres...
Texto de Urariano Mota sobre os exames médicos no Brasil.
Sanidade total à brasileira
Há duas semanas, precisei de um atestado de sanidade física e mental. Quem me conhece sabe que esse atestado, aplicado ao indivíduo que sou, ou é desonesto ou é impossível. Mas que fazer, a gente precisa, e necessidade não tem lógica, tem é carência enorme à procura de satisfação. Eu buscava, portanto, um Atestado de Sanidade Física e Mental. Assim em maiúsculas fica até mais digno, e mais crível. Por isso abro o catálogo telefônico e destaco os números de telefone dos centros médicos, Centro Médico, devo dizer, para maior idoneidade dos Centros. Ligo, e começa o nonsense.
– Roseli…
– É do Centro Médico Ulisses Eulâmpio?
– Sim, Roseli, às suas ordens.
– É do Centro Médico?
– Sim… um momento.
E depois de 3 minutos de intervalo, por vingança, suponho, porque eu não soube logo que o Centro Médico Ulisses Eulâmpio e Roseli eram uma só e só uma pessoa:
– Sim… fale.
– Vocês fornecem atestado de sanidade física e mental?
– Atestado de…
– Sanidade Física e Mental.
– Só o Físico.
– E o Mental?
– O senhor tem que ir a um médico de doença mental.
Antes que eu agradeça, a recepcionista que é uma instituição desliga. Ligo para outros, outros Centros Médicos, outras Centrais de Atendimento de Saúde, até para Hospitais. Sempre a mesma conversa. “Só o físico atestamos, o senhor, se quiser, que vá a um psiquiatra pegar o outro”. E o outro, bem sei, por mais características certas e inabaláveis de esquizofrenia, o outro deve ser eu. Que não vai correr esse risco. Por isso este, aqui, volta a um décimo Centro Médico de Saúde.
– Escute, vocês não têm médico clínico geral?
– Só temos especialistas.
– E não têm dois especialistas, um físico e um mental, no Centro?
– O senhor deveria ir a um Hospital Psiquiátrico.
Desligam. Mas o louco, que bem sabe estar no Brasil, terra de todas as possibilidades possíveis e imagináveis, não desiste. E lhe dizem, na vigésima primeira tentativa.
– Centro de Medicina do Trabalhador.
– Vocês fornecem atestado de sanidade física e mental?
– Sim, fornecemos.
– Atestado de Sanidade Física… e Mental?!
– Sim, fornecemos.
– Certo… (E repito, para maior certeza)… Atestado-de- sanidade- física- e- mental.
– Um momento…
E por vingança, suponho, deixa-me a esperar uns bons 5 minutos, porque não ouvi bem, e se ouvi deveria ter acreditado que ali se fornecia Atestado de Sanidade Física e Mental, sem dúvida, idiota.
– Centro de Medicina do Trabalhador…
Imagino, porque estou em casa ainda, imagino que o Centro de Medicina do Trabalhador é um complexo industrial-médico cheio de canos, retortas e de portas, e laboratórios, e corredores compridíssimos, cheios de especialistas de todas as especialidades, se assim podemos dizer. Um lugar onde entramos em uma porta e saímos em outra, de exames de raios X a laboratórios de análises, de laboratórios a máquinas de eletrochoques, até atingir as perguntas cruciais dos psiquiatras, que nos estudam e olham como se fossem a Miss Marple de Agatha Christie. Imaginação vulgar, estúpida e insípida, já veem.
– Me diga uma coisa: demora muito pra pegar esse atestado?
– Não, é ordem de chegada.
– Tem muita gente aí?
– Centro de Saúde do Trabalhador… um momento. Agora, só uns quinze.
– Vocês atendem por algum plano de saúde?
– Centro de Saúde do Trabalhador… O pagamento é na hora.
– E quanto é?
– Trinta reais.
Desta vez sou eu que desligo. Trinta reais! Isso ou é uma absoluta anarquia, uma grande zona, ou deve ter algum subsídio para, depois do check-up, diagnósticos, especialistas e consultas, atingir um preço tão barato. E me mando, necessitado e incrédulo que sou, para o centro do Recife.
Ó homem de pouca fé, ainda que vivas em um país cafeeiro, acredites, o Centro de Medicina do Trabalhador existe, e não é uma absoluta zona. É um lugar com aparência decente (“como deve ter todo prostíbulo que funcione”, um diabo me diz). Mas não. Ali entro em uma sala, com duas atendentes, que me parecem moças da maior seriedade. E por isso pergunto, com um pé atrás, em um intervalo de suas respostas “Centro de Medicina do Trabalhador” no telefone:
– Atestado de Sanidade Física e Mental, é aqui?
– Aguarde a sua vez – ela me responde, enquanto me entrega um papelzinho numerado, onde leio, “ficha 27”.
Olho ao redor. À minha frente, jovens recém-saídos da adolescência, e um deles sem dúvida é um rapaz típico de Pernambuco. Veste uma camisa negra, com as palavras, digo, com o anúncio “Quick Silver”. Palavras em inglês, nas camisas, para muitos jovens do Recife têm um valor estético, porque as veem com o mesmo significado de um ideograma chinês. Ao lado, um cidadão gordo, um quase velho, diria, se eu não estivesse em idade próxima à dele. Um inválido, eu acrescentaria, se nos últimos tempos eu não estivesse bem solidário para com os inválidos. Um homem, enfim, completo, que não passará com a sua imensa barriga em qualquer check-up. Ele sequer passa na abertura da cadeira, e por isso se põe um pouco de lado, a subtrair uma parte do largo traseiro no assento menor. Veste uma camisa bege, e percebo que outros também se vestem como ele, é uma farda, e todos eles possuem uma fita azul no pescoço, que desce, a fita, para um crachá, que ocultam no bolso, onde está escrito “Tribunal de Justiça de Pernambuco”. Ah, bom, então isto aqui é sério, jamais será um prostíbulo, falo comigo para o meu outro. Seis funcionários da justiça, chego a contar. Da Justiça, corrijo. Seis honrados servidores da Justiça de Pernambuco à espera do seu Atestado de Sanidade Física e Mental. Ó homem de pouca fé, o negócio, digo, o atendimento médico é garantido pelo órgão máximo das leis do Estado. Por isso, espero em paz e silêncio, para não descansar em paz. Assim manda o bom senso.
Abre-se uma porta. Sai uma senhora, jovem, com uma bata branca. É médica, me digo. Porque os médicos usam bata branca. Mas não só: a jovem moça que sai tem um certo ar de confiança, da mais certa e certeira impunidade. Esse ar dos maus médicos, devo restringir, para viver sem a sua ameaça. E me calo, sob a proteção dos funcionários do estado. A jovem passa, volta e se fecha em uma sala, misteriosa. A senhorita da recepção me chama. Enquanto preenche uma ficha, que deve ser a minha, pergunta:
– Altura?
– Um metro e setenta. (Quis dizer um metro e oitenta e cinco, mas por surto de consciência reduzi quinze centímetros)
– Peso?
– Setenta quilos.
– Aguarde.
Depois que me sento, descubro que por simetria informei meu peso em concordância emagrecedora com a minha altura. Um excesso de estética me fez descer o peso em vinte e poucos quilos. Mas é como se eu os tivesse, me digo. Mentalmente, sou um homem esbelto. No ideal em que me vejo, tenho um metro e oitenta e cinco de altura e peso setenta quilos. Belo melhor não há.
Eis então que chega a minha vez, e uma porta se abre para o meu primeiro exame de Atestado de Sanidade Física e Mental. O médico que me atende, devo dizer, o médico na frente do qual eu me assento, tem os olhos fitos na minha ficha estética. Ele não me olha. Coitado, compreendo. A seu lado possui uma pasta grande, aberta, cheia de fichas, e um papel com quadrinhos, que imagino ser um mapa estatístico, dos seus atendimentos na manhã. Quantos? Sessenta, noventa, cento e vinte? Sem me olhar, sem me ver, pergunta o pobre homem:
– Alguma doença?
– Não.
– Já fez alguma cirurgia?
– Sim…
O seu rosto ganha um ar de enfado, de aborrecida contrariedade. E sem me perguntar qual cirurgia e a razão de ter passado por bisturi:
– Mas tudo bem, não é?
– Sim, tudo bem…
– Fuma bebe drogas tóxicos algum vício, o braço.
Estendo-lhe o direito, a pensar que ele vai procurar, com percuciência, algum sinal de picada, marca ou tatuagem. Engano. Ata-me um tecido, ágil, pelo que sinto, na altura do antebraço, e com dois apertos em uma bola escura olha rápido o ponteiro em um medidor.
– Pode ir.
Confesso que lhe estendi a mão para um cumprimento, mas o pobre homem não pôde corresponder, tão pesada era sua tarefa de formar novos quadrinhos de atendimento.
– O próximo.
Na recepção, a gentil e decente moça me entrega um papel já assinado por um médico, que deve ser o mesmo na frente do qual eu transitei. Entre o exame e o atestado há uma velocidade mais rápida que a da luz. Saio à rua, quase corro, com medo que a recepcionista se arrependa e me chame de volta. Leio e releio o documento. Parece mentira, mas os meus olhos não mentem: “Declaro, para os devidos fins, que o portador se encontra em perfeito gozo de saúde física e mental”. Mas que belo, que bela é a nossa organização física, mental e declaratória. Jamais poderia imaginar que por trinta reais eu seria um homem em pleno gozo de saúde. E magro, belo e feliz para os devidos fins, que espero longínquos.
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Soledad no Recife, de Urariano Mota, está à venda em versão eletrônica (ebook), por apenas R$10. Para comprar, clique aqui ou aqui.
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Urariano Mota é natural de Água Fria, subúrbio da zona norte do Recife. Escritor e jornalista, publicou contos em Movimento, Opinião, Escrita, Ficção e outros periódicos de oposição à ditadura. Atualmente, é colunista do Direto da Redação e colaborador do Vermelho. As revistas Carta Capital, Fórum e Continente também já veicularam seus textos. Autor de Soledad no Recife(Boitempo, 2009) sobre a passagem da militante paraguaia Soledad Barret pelo Recife, em 1973, e de O filho renegado de Deus (Bertrand Brasil, 2013), uma narração cruel e terna de certa Maria, vítima da opressão cultural e de classes no Brasil. Colabora para o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças.
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