Nem sempre as indicações presentes neste espaço podem ser amplamente divulgadas como um vídeo, uma imagem, um recorte de jornal ou até mesmo de outros blogs, porém, determinadas coisas devem ser mostradas sem importar os meios pelos quais são expostas. E só para lembrar, este não é de fato o maior blog do mundo, afinal de contas aqui não estão presentes os maiores cremes da moda vendidos em Miami... viso, em última instância, o enriquecimento moral, cultural e intelectual de quem tiver o mínimo de estrutura do bom senso.
Com a supracitada informação venho falar sobre a obra literária "Quase memória"do autor brasileiro Carlos Heitor Cony, publicada em 1995, quando o escritor já havia decidido não mais escrever romances. É justamente por este fator que o presente livro se faz tão curioso, não é um romance, e nem mesmo um livro de memórias, mas sim uma interessantíssima mescla de ambos.
O autor, já consagrado, inicia sua narração a partir do momento em que recebe, no hotel onde faz sua refeição um embrulho simples, de papel pardo e com um nó feito de barbante. É este nó o estopim de suas divagações, pois sabe que pela perfeição aplicada no embrulho não pode ser de outra pessoa que não de seu pai, falecido muitos anos antes. Mas como este embrulho pode estar aqui, sendo de meu pai se é que ele faleceu faz tanto tempo?
Isto é o suficiente para que Cony sente-se em sua mesa do jornal onde trabalha e passe o dia a observar o tal pacote ao mesmo tempo em que revê toda a sua infância, adolescência e fase adulta com a presença de seu mestre e herói: seu pai. Todos os ensinamentos, todos os momentos onde pôde ter um grandioso exemplo, todas as lições, todas as dificuldades de um grande homem tornado insuperável e humano ao mesmo tempo.
Impossível a leitura de tão delicioso livro não me trazer à frente a imagem de meu próprio pai, meu herói particular de todos os dias e em vários momentos saber que não foi só Cony quem pôde se inspirar em alguém. As lágrimas me vieram alguns momentos aos olhos...
"De repente, tive vontade de escrever sobre um gigante que vinha todas as noites e me trazia bombons e balas. Um gigante que fazia coisas terríveis que me amedrontavam mas que eu gostava dele porque, no final de tudo, ele sempre tirava de um alforje de couro um brinquedo, e me mandava brincar. um gigante que morava longe, onde moram o vento e as coisas do mundo, que apesar de morar tão longe nunca deixava de chegar, em horas estranhas, mas sempre chegando, porque sabia que eu precisava dele."
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