domingo, 22 de setembro de 2013

Carta aberta sobre o Sexto encontro de cenas curtas de Uberlândia

Este final de semana, mais precisamente no Sábado dia 21 e Domingo dia 22 pude presenciar, de maneira inicialmente displicente e desinteressada o Sexto Festival de Cenas Curtas de Uberlândia, realizado na Escola Livre do Grupontapé de Teatro. 

Ao adentrar o recinto foi-me proposta uma questão: E o pulso, ainda pulsa? Confesso que inicialmente não levei tal questão a sério... apenas supus uma releitura barata de algo já pisado e mastigado pela pseudointelectualidade brasileira. Como pude me enganar tanto e desta tão vil maneira? Creio ainda não ser capaz, depois das cenas que assisti, de responder esta pergunta.

O que posso necessariamente dizer, sem medo de errar e acompanhado pela Filosofia da Ciência mesclada com a Filosofia da Arte e a Estética, que o mundo seria plenamente o mesmo se não houvesse existido Newton. Alguém, mais cedo ou mais tarde proporia suas teorias. O mundo ainda seria o mesmo se não houvesse nascido Einstein, pois as descobertas científicas são questão de tempo. O mundo seria tal e qual é hoje se não houvesse Darwin proposto sua teoria da evolução... mas o mundo não seria igual ao que podemos presenciar atualmente sem a existência de Beethoven - ninguém seria capaz de criar suas composições. O mundo não seria o mesmo sem Kafka. O mundo não seria o mesmo sem o poder impulsionador da arte. O mundo não seria o mesmo sem o poder sensibilizador do artista em seus momentos de furor incontido e criador - ser que sem esperar retorno ainda é capaz de se doar com a força sobrenatural da sensibilidade para tocar seus observadores.

O que vi neste evento supracitado foi a sensação de perspectiva... sempre me perguntei o que teria feito Beckett se lhe tivessem sido concedidos dez anos a mais de vida saudável. Afinal, o mundo, mesmo sendo ingrato com seus verdadeiros heróis, ainda deve muito a eles. O mundo não é o mesmo após Beckett. Por mais que este autor não seja lido, que teatralmente seja desprezado, que seja não popularizado, é um grande credor de mérito, adquirindo para si a capacidade insuperável de ser único ao alterar o modo de ver a realidade das pessoas.

O que vi neste supracitado evento fez por mim o que Beckett fez pelo mundo... A cidade de Uberlândia deveria ser grata por possuir tão fabulosos grupos de teatro capazes de alterar seus rumos - sei que pouquíssimo valorizados, pois é arraigada na população a total falta de espirituosidade e capacidade de enxergar o possível. Uma cidade que é capaz de se vangloriar por ter um teatro criado por Niemeyer sem levar em consideração o grande criador que foi este homem mas apenas o status que ele pode dar não é capaz de perceber o que está diante de seus olhos e que pode mudar seu rumo.

Mas temos sorte, pois mesmo sem a valorização devida temos envolvidos com o teatro capazes de aguentar as pedradas. 

Minha vida não pode ser a mesma após o que vi... o pulso ainda pulsa... minha consciência foi brutalmente exposta aos seus limites, não há como não haver vida pulsante, explodindo, entrando em erupção...

Cabe-me agradecer a todos os envolvidos, mesmo que eu não os conheça por meus hábitos ostracizados, mas isso não é de responsabilidade deles, apenas minha. Obrigado por pulsarem, obrigado por tornarem as pessoas, dentro das limitadas possibilidades, bombas relógio.

Parabéns a todos os grupos e que entendam que esta não é uma competição nos moldes pregados por uma sociedade capitalista, onde sempre deve haver apenas um vencedor vangloriado, mas que os grupos eleitos como vencedores(?) puderam, neste momento alterar de maneira mais precisa o público, fazendo com que ele seja mais uma válvula pulsante, mas todos vocês são grandes... assim parabéns especiais e obrigado pelo "mal"que me fizeram os grupos Giz de Teatro, Experimento Oiorpata e Carne Mamífera - vocês foram os responsáveis por tornar o rumo desta cidade diferente...


Diego Perin 

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