segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Não é por Dirceu, mas por Joaquim Barbosa e sua megalomania.

Reacionários do Brasil: deixem Dirceu em paz


Postado em 26 nov 2013

Não é fácil ser Dirceu
Não é fácil ser Dirceu
Reacionários do Brasil: deixem Dirceu em paz. Pelo menos na cadeia, poupem-no de seu reacionarismo estridente, obtuso e maldoso.
Qualquer coisa que ele faça vira contra ele.
A mídia publica, por exemplo, que ele teria pedido apoio a Lula. Uma declaração contra a brutalidade a que está sendo submetido por Joaquim Barbosa.
Isso vira “pressão”. Isso vira “tentativa de subverter a justiça”.
Até eu, que estive com Dirceu apenas uma vez, entendo que Lula deveria se manifestar com clareza a favor dele.
De amigos a gente espera o quê?
Lembro a mais linda frase sobre a amizade, escrita por Montaigne quando morreu seu amigo La Boétie. “Estava tão acostumado a sentir que éramos um só que agora me sinto meio.”
O que há de errado em Dirceu querer de Lula apoio numa hora duríssima como a que ele vive? É uma reação absolutamente humana.
Considere. Não é uma prisão normal. Nos últimos tempos, juristas insuspeitos de simpatia petista manifestaram repulsa ao julgamento do Mensalão.
Ives Gandra disse que Dirceu foi condenado sem provas, depois de estudar o processo. Bandeira de Mello, depois de acusar JB de ser um homem mau, sugeriu seu impeachment. Um celebrado constitucionalista português, Canotilho, citadíssimo pelos juízes do STF, disse ter visto falhas extraordinárias no julgamento, a começar pelo papel de Joaquim Barbosa.
Disceu tem 67 anos. Está na última etapa da vida útil. E uma decisão contra a qual se erguem tantas vozes o põe na cadeia.
Imagine você nessa situação. Não iria reclamar um apoio de Lula, se este fosse seu amigo e conhecesse a história que levou você à cadeia?
Repito: não é uma cadeia normal.
Li outro dia que, depois de muitos anos, a justiça do Paraná decretou enfim a culpa de um ruralista que diversas testemunhas viram dar um tiro na nuca de um sem terra que ocupara uma fazenda dele.
É uma história macabra, ocorrida em 1998.
Um grupo de pistoleiros mascarados cercou os sem terra. Mandou-os deitar com o rosto no chão. Um deles, com problemas na coluna, não conseguiu.
Um dos pistoleiros matou-o a sangue frio. Antes de apertar o gatilho, tirou a máscara. E por isso foi reconhecido. Era Marcos Prochet, ex-presidente da UDR no Paraná.
Prochet foi reconhecido porque tirou a máscara antes de dar um tipo na nuca de um sem terra
Prochet foi reconhecido porque tirou a máscara antes de dar um tipo na nuca de um sem terra
Prochet não foi preso, embora o processo seja do milênio passado. Dificilmente será: é um homem rico.
Mas Dirceu está preso, e não pode sequer invocar o apoio de Lula que é crucificado pelos reacionários. Também não pode cuidar da cela que é acusado, como se viu numa matéria do Estadão, de ter mania de mandar e ser obcecado com limpeza.
Essa é a mídia brasileira.
Aquela é a justiça brasileira, na versão 2013 protagonizada por Joaquim Barbosa.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.



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