“A teoria, quando penetra nas massas,
se torna força material.”
– Karl Marx
se torna força material.”
– Karl Marx
O intelectual olha para a teoria e a encontra magnifica (de fato, varias delas o são). Olha para a realidade e a encontra muito menos coerente e atraente. Fica enfim com a teoria, dando as costas para a realidade. Essa é a postura espontânea dos intelectuais, cuja pratica está vinculada a atividades acadêmicas, desvinculadas da pratica política.
A postura normal de um intelectual é a de interpelar a realidade a partir da teoria, perguntando-se por que a realidade não obedece aos cânones da teoria, sendo sempre um desvio em relação a esses cânones. Nada melhor então que o refugio da teoria, das teorias sobre as teorias, da crítica crítica.
Ao invés de interpelar a teoria a partir da realidade, que é a forma dialética de pensar as relações entre teoria e prática. O que a teoria tem para nos ajudar na transformação profunda da realidade?
A dissociação dramática entre a teoria e a prática política dentro mesmo do marxismo – que propõe, na sua essência, um vinculo indissolúvel entre elas –, foi abordada por Perry Anderson em seu Considerações sobre o marxismo ocidental, publicado pela Boitempo no Brasil. Como resultado da confluência da ação repressiva dos fascismos europeus e da stalinização dos Partidos Comunistas – ambas agindo na direção de bloquear o debate e a criatividade teórica, surgiu a figura do marxista acadêmico – uma categoria contraditória com o próprio marxismo.
Fragmentavam-se, por um lado, teorias sem transcendência na realidade, fechadas sobre si mesmas, cada vez mais debatendo suas próprias teorias. Por outro lado, práticas políticas pobres de reflexão teórica e estratégica.
As duas figuras se perpetuaram no tempo. Passaram a proliferar intelectuais que se consideram marxistas, apesar de não terem vinculo partidário algum, e que agem como franco-atiradores, críticos da esquerda realmente existente. De posse dos livros, se consideram mais marxistas que quaisquer outros, críticos contumazes das praticas partidárias, que se rendem às realidades concretas, “traindo” a teoria.
No Brasil eles proliferam na academia e na mídia tradicional, em geral criticando a esquerda, nunca, ou quase nunca, a direita – uma espécie de condição implícita para ter esses espaços. Publicam livros e têm amplos espaços na mídia, contanto que sejam livros críticos da esquerda, desencantados, pessimistas, céticos no limite do cinismo. São da turma do Cambalache: tudo é igual, nada é melhor. Se estiver melhor, se esgota sua perspectiva cética, então o uso da teoria por ele é para desmascarar qualquer possibilidade transformadora da realidade.
Para esse tipo de intelectual a teoria não é, ao mesmo tempo, um instrumento de compreensão e de transformação da realidade. Para que fosse assim, eles teriam que ser militantes, membros de partidos, participantes da construção coletiva de processos políticos realmente existentes e não livre atiradores – o que se contrapõe frontalmente à possibilidade de que possam se reivindicar o marxismo.
É na América Latina, nos processos pós-neoliberais mais avançados – na Bolívia e no Equador –, que essa dicotomia começa a ser superada. O presidente equatoriano Rafael Correa e o vice-presidente boliviana Álvaro García Linera, são as duas expressões mais claras dessa recomposição entre prática teórica e capacidade de direção política, onde se mostra que a crítica profunda da realidade só pode desembocar em projetos de transformação profunda da realidade, se não quiser permanecer sempre como crítica crítica.
Fonte: http://blogdaboitempo.com.br/2015/01/14/a-critica-critica-critica-critica-critica/
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